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A palavra miragem*



Um visar insinua mensagens num sopro de palavra irreconhecível. Seu dizer reverencia um lugar onde se antecipam realidades. Sua distorção do ângulo de visão lhe concede a nudez da primeira mirada. Essa lógica busca as possibilidades absurdas à espera das infinitas leituras.

As expressões caladas pela camisa de força da normalidade (rituais médicos, religiosos, escolares), poderia anunciar incontáveis horizontes. Suas derivações ofereceriam novas verdades. Uma tez de olhar inédito compartilharia o segredo dos refúgios. Sua fonte anunciaria a poética do existir para além da razão exclusiva.

O movimento da nuvem contradição exalta incompletudes, antíteses, irregularidades. Com ele uma subversão se aproxima, relembra as margens desmerecidas. Aqui a definição pode ser desconcerto, aniquilar aquilo que busca compreender. Numa realidade assim disposta, trata-se de um crime inafiançável a pretensão de viver sem fronteiras.

A palavra miragem reivindica um espírito visionário, muitas vezes inadequado as leis do seu tempo, lugar, interseções. Sua ressonância traduz um dizer inconformado. Parece mencionar uma epistemologia faíscas de luz na escuridão.

Nesses casos, basta a sintonia numa frequência aproximada para melhorar a comunicação. Daí em diante outros mapas escorregam pelas frestas do mundo conhecido. Uma lógica superlativa aprecia as loucas ideias, parece anunciar o motim das verdades desconsideradas.  

Seu discurso limiar se opõe ao que parecia inaudito. Os fragmentos, indicações, apreciam refletir originalidades. Sua abertura imensa sugere alternativas ao saber de caráter definitivo. A expressão inconclusa rasura constantemente a sintaxe conhecida. Pouco antes de ser invenção ou descoberta, esse íntimo observatório prepara um vocabulário aos fenômenos que vão chegando.
   
O delírio dessa mirada é ser compartilhável, seu teor parece tecer considerações sobre a íntima relação entre sonho e realidade. Sua aparição é um pré-nascimento. Seu rumor consegue modificar o padrão existencial reconhecível. Numa expressividade assim descrita é possível integrar ser e não-ser.

Ao representar a multidão de olhares contraditórios, sua manifestação ameaça os princípios de verdade. A subjetividade mesclada num discurso delirante exercita-se como fonte de originalidades. A busca para reencontrar-se apresenta uma nova conformação existencial. Seu aparecimento realça uma estética criativa.    

Nessa dialética pode-se especular sobre o imenso laboratório onde fomos lançados. A transgressão discursiva aprecia a errância do sujeito fora de si - encontrando um ambiente propício - para resignificar-se em poesia.

Um assombro irrepetível transgride a mão de quem escreve-se, rascunha suas possibilidades, transpõe os medos, as culpas agendadas, oferece aproximações com sua porção de infinito.

*Hélio Strassburger

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