E se um dia você acordasse e tudo a sua volta tivesse
mudado? Se todas as coisas tivessem mudado de lugar? Se as árvores já não
crescessem do mesmo jeito? Se as pessoas comessem coisas diferentes e de modo
totalmente distinto do qual você havia se habituado a ver? Se todo constructo
educacional prévio, tivesse se tornado obsoleto e outro modo houvesse se
consolidado sem que você tivesse se dado conta antes? Se o mundo que você
conhecia antes, já não fosse, em nada, parecido com o que você acaba de se
deparar ao acordar?
E se você resolvesse levantar de sua cama, no desconserto
das novas perspectivas, e resolvesse se aventurar nessas novidades? Se
resolvesse comparar menos as coisas que vê agora com as que antes havia se
habituado? Se, então, se permitisse tocar as coisas de forma única, nova? Se,
semelhante a uma criança, se permitisse o maravilhar-se ante tudo o que nunca
viu? Se deixasse com que as coisas que causassem alegria, levassem você ao
sorriso e as coisas que magoassem, ao choro? Como acha que seria?
E se ao longo do dia, você experimentasse novas
linguagens cotidianas utilizadas entre as pessoas? Se, experienciando essas
novas linguagens, você começasse a fazer novas amizades? Se essas amizades
trouxessem novos hábitos? Mas, se na posse desses novos hábitos, costumes,
amigos e vivências, você fosse advertido de que aquele é apenas um momento de
novas experiências e que, após uma noite de sonho, você acordaria exatamente
para a vivência anterior, à qual você ao longo dos anos havia se habituado?
Mesmo tendo passado um dia inteiro vivenciando o novo, o inédito em sua vida,
você voltaria para sua rotina sendo a mesma pessoa?
E se eu dissesse a você que experiências semelhantes são
vivenciadas diariamente? Se dissesse que um filósofo clínico se vale de um
princípio muito próximo para trabalhar com seus partilhantes na prática
terapêutica? Se dissesse que a experiência de uma hora semanal não exime o
filósofo de vivenciar, não só um dia, mas toda a vida do partilhante? E se
dissesse que ele as comparações com as perspectivas próprias fossem suspensas
não só por um dia, mas ao longo de toda historicidade e visão de mundo do
partilhante? Se dissesse, também, que um bom exercício de interseção entre
filósofo e partilhante leva aquele a não mais voltar o mesmo? Se dissesse que o
mundo dele fosse expandido devido às novas vivências, experiências e
perspectivas de mundo?
E se toda essa experiência experimentada pelo filósofo
fosse trazida para seu cotidiano? Se ele resolvesse acordar e ver o mundo com
menos pré-juízos e com mais ineditismo? Se ele não mais visse as árvores
somente pelo modo ao qual você havia se habituado, mas se permitisse outras
formas de vê-las, tocá-las, pensá-las? E se isso fosse estendido a toda
experiência do seu dia? E se você sendo, se preparando ou vislumbrando a
possibilidade de ser um filósofo(a) clínico(a), pensando nessa experimentação
mental, resolvesse colocar um pouco dessa vivência em suas experiências
cotidianas? E se...
**Miguel Angelo Caruzo
Filósofo Clínico
Juiz de Fora/MG
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