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Saber não é poder**












A contemporaneidade se caracteriza pelo volumoso número de métodos de crescimento pessoal. Tanto os métodos psicológicos como o cognitivo-comportamental (TCC), quanto a programação neurolinguística (PNL) ou até livros de autoajuda (AJ), nos “empurram” meios de superar dificuldades, hábitos ou qualquer outro tipo de “problema” em nossas vidas. Mas, quais os limites dessas abordagens?

A Filosofia Clínica (FC), uma abordagem terapêutica, traz consigo diversos ganhos. O primeiro deles está no fato de reconhecer que não é a principal, única ou última das possibilidades de viabilização do bem estar de uma pessoa (seja lá o que podemos entender por “bem-estar”). Assim, a FC nos ensina que a religião, os livros, os amigos, as abordagens psicológicas e psicanalíticas, as escolas e tantos outros meios, podem contribuir para determinados fins almejados por uma pessoa.

Diante das possibilidades elencadas acima, é importante ressaltar que a diversidade se dá pela singularidade daquele que procura os cuidados de determinados meios. Isso nos remete ao fato de que a religião, por exemplo, pode cumprir uma viabilização pela axiologia (valores), pelos pré-juízos (verdades internas, pessoais), por termos agendados no intelecto (afirmações legadas externamente e que influenciaram internamente), ou por tantos outros tópicos importantes na malha intelectiva da pessoa (Estrutura de Pensamento EP)*.

Vemos, com isso, que as pessoas não são todas movidas pelo tópico da EP chamado epistemologia. Ou seja, nem todas as pessoas se movem pelo lado racional, baseando sua vida pelo que aprendem ou conhecem. Há pessoas que são movidas predominantemente por emoções, outras por intuições, outras ainda pela sua representação de mundo, e por aí vão as possibilidades. Note que os termos que utilizo são formas totalmente destituídas de conteúdo. Emoções, por exemplo, são amores, ódios, alegrias, tristezas, e todas somente tem sentido na FC, se apresentada e fundamentada na pessoa que a traz consigo enquanto constituinte de sua EP.

Mas, também não é possível afirmar que estabelecer metas (PNL), reconhecer emoções e pensamentos (TCC) ou aprender meios de resolução (AJ) vão, de fato, levar a pessoa à “solução” de suas questões. Quantas pessoas “sabem” de seus problemas, “reconhecem” meios de resolvê-la, inclusive “aprendem” com facilidade todos os métodos possíveis e, no entanto, não efetivam? Isso não é bom nem ruim; trata-se de um modo singular de existir.

Vale ressaltar que problemas, questões, erros, desconfortos ou quaisquer outros termos, tomados em si mesmo, não significam nada para a FC. O que determina como as coisas são ou não, é o partilhante que procura o consultório; é do partilhante que vem os “remédios” e “venenos” existenciais com os quais o filósofo clínico irá viabilizar seu modo singular de existir.

Diante do que vimos, podemos concluir que cada pessoa encontrará nesses meios a ajuda de que precisa e não é o método por si só, em último caso, que determinará a resolução, mas a interseção entre o método e o sujeito que o procura. Portanto, nem sempre saber o problema significa que a pessoa irá poder viabilizar soluções. Não há abordagem única e absoluta, tal como não há pessoas com as mesmas características ou problemas a serem resolvidos.
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* A explicação dos tópicos da Estrutura de Pensamento apresentada no parágrafo, é muito básica e representa somente uma ínfima parte do significado que eles de fato possuem. Portanto, caso queira conhecer melhor o que significa cada tópico, sugiro maior aprofundamento em bibliografias ou através de filósofos clínicos. 

**Miguel Angelo Caruzo
Filósofo Clínico
Juiz de Fora/MG

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