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Papéis*


Querido leitor, que você esteja bem. 

Recentemente fui a um evento, desses de premiação dos melhores e maiores do ano, e a mestre de cerimônia, no intuito de ser simpática e acolhedora, perguntou-me: - Como devo anuncia-lo? Ao que respondi: - Como assim? E veio a réplica: - Quem é você, o que faz?

Como se tratava de uma amiga e tínhamos algum tempo, comecei a refletir com ela sobre um tema muito interessante e que tem me atraído nos últimos tempos. Falo de papéis, papéis existenciais.

Com carinho, respeito e abertura, disse-lhe que já não sabia mais quem era! O que faço? Hum, faço tantas coisas! Veja bem: se vou ao campo de futebol sou um torcedor, como vim de avião até aqui sou passageiro, meus filhos me chamam de pai, para o Theo, meu neto, sou avô.

Parece pouco, mas ainda nem comecei. Para a Albany sou marido, para os empregados, sou chefe, patrão; nas reuniões do Conselho, sou conselheiro; na loja comprando, cliente. Na associação industrial, sou empresário; para os apresentadores de televisão, telespectador; para os radialistas, ouvinte; para meu pai sou filho. Quando viajo a lazer sou turista;  para o jornal, articulista; para o Mhanoel, amigo. Quando de bicicleta, ciclista; no consultório terapeuta; dando aula, professor; assistindo aula, estudante. Para o médico sou paciente; quando leio, leitor; degustando um vinho, enófilo; na cozinha, cozinheiro. Se vou a igreja, sou fiel; se por acaso trair a esposa, infiel; dirigindo,  sou motorista; no mesmo carro só mudando de posição, agora ao lado do motorista, já passo a ser caroneiro. Na praia, veranista; quando voto, sou eleitor; quando escrevo, escritor.

Houve um tempo que dizia que era apenas empresário. Depois passei a me identificar como empreendedor, agora tudo que peço é que não me reduzam a um só papel existencial.

Às vezes, como aquela amiga do cerimonial, encontro pessoas que ainda me perguntam: Quem sou eu, o que faço?  Confesso que hoje já não sei direito. Tento viver como se fosse tudo isso e, talvez, não ser nada disso. No dizer do mestre Jesus, “viver nesse mundo sem ser desse mundo”. No corroborar de Carl Jung, “ser e viver todos os papéis sem se apegar a nenhum específico”.

Que tal apenas Beto Colombo? E você, quem é?

Lembrando que isso é assim para mim hoje.

*Beto Colombo
Empreendedor, Escritor, Filósofo Clínico, coordenador da Filosofia Clínica na UNESC...
Criciúma/SC

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