Descartes foi um
filósofo francês da modernidade. Segundo os estudos de historiadores da
filosofia, foi ele quem inaugurou esse período. Mas que tem isso a ver com a
Filosofia Clínica que é totalmente contemporânea? Um dos métodos estabelecidos
por Lúcio Packter para a clínica propriamente dita é a epoké cética por parte
do Filósofo Clínico. A suspensão dos juízos (epoké) é o que garante a
subjetividade da construção de mundo do Partilhante e o que possibilita uma
clínica bem sucedida. Descartes se vale desse método para encontrar sua
primeira verdade indubitável: penso, logo existo.
Na Filosofia, chamamos
o método cartesiano de “dúvida hiperbólica”, porque ele duvida de TODO o
conhecimento por ele adquirido durante toda sua vida. Em Clínica, não duvidamos
do conhecimento por nós adquirido. Pelo contrário, temos que tê-los sempre em nosso
auxílio. Porém, nos utilizamos da suspensão dos nossos juízos para entendermos
a Representação (Schopenhauer) dos nossos Partilhantes. É a partir do mundo do
Partilhante que trabalhamos e não a partir do nosso mundo. Se colocarmos a
nossa Representação, estaremos induzindo-o a pensar como nós e não é o que
queremos.
O método adotado por
Descartes nos ajuda a encontrar um caminho seguro para seguirmos em Clínica, a
nossa verdade indubitável: o mundo é Representação. A partir dessa verdade
trabalharemos em Clínica, tendo em mente que é sempre a visão de mundo do
Partilhante que nos interessa. A nossa visão de mundo não pode ser colocada
para ele, pois ele só entende sua própria Representação. Porém, é muito difícil
ir ao mundo existencial do outro sem colocar nossas representações de mundo,
mas é necessário.
“Penso, logo existo” é
o alicerce segundo o qual o filósofo francês vai edificar toda sua filosofia.
“O mundo é Representação” é o substrato segundo o qual o Filósofo Clínico vai
qualificar sua interseção com o Partilhante para, a partir daí, buscar o
conforto existencial pretendido por quem o procura. A pura e integral
alteridade é extremamente necessária para que possamos entender por completo a
Representação daquele que nos partilha sua vida, entendendo alteridade como ir
ao mundo do outro sem interferir nele.
O método de suspensão
dos juízos é necessário também para que possamos nos aprofundar na alteridade e
descobrir as causas, motivos, razões ou circunstâncias do sofrimento daquela
singularidade que está à nossa frente. Desculpem-me pelo pleonasmo, mas foi
necessário para frisar bem o que queremos, enquanto Filósofos Clínicos, na
construção compartilhada que se faz em Clínica: identificar e ajudar a desatar
os nós de sofrimento.
*Vinicius Fontes
Filósofo Clínico
Rio de Janeiro/RJ
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