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Mostrando postagens de junho, 2014

Fui Sabendo de Mim*

Fui sabendo de mim por aquilo que perdia pedaços que saíram de mim com o mistério de serem poucos e valerem só quando os perdia fui ficando por umbrais aquém do passo que nunca ousei eu vi a árvore morta e soube que mentia *Mia Couto

Caminhantes*

O que acontece Nas sombras? O que acontece Na luz? Somos isto e aquilo! Imperfeitos Em fruição! Nem bem Nem mal Apenas humanos. Meio bicho Meio anjo Caminhantes Peregrinos no existir. Em processo Nunca acabados. Para que complicar Se o que basta É viver? *Rosangela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Fragmentos poéticos, filosóficos*

Viajar?  Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são. Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir. “Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até ao fim do mundo”. Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu. Na realidade, o fim do mundo, como o principio, é o nosso conceito do mundo. É em nós que as paisagens tem paisagem.  Por isso, se as imagino, as crio; se as crio, são; se são, vejo-as como ás outras. Para que viajar? Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na China, nos Pólos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e gênero das minhas sensações? A vida é o que fazemos dela. As

Mundos*

Olhando pela janela, dentro de casa e até mesmo dentro de cada um há uma representação de mundo. Quando alguém diz que o mundo é ruim, mau, bom, certo, errado, isso é assim para a pessoa que disse, da maneira como ela disse. Isso pode ser algo que ela construiu a partir das próprias vivências, pode ser algo gravado do que outras pessoas disseram, também pode ser o resultado de uma longa e bibliográfica reflexão e assim será para cada um.  O mundo como uma representação foi uma teoria criada pelo filósofo Protágoras, do qual já se deve ter ouvido falar. Mas outro filósofo mais atual foi além, falou que o mundo é a minha representação, que não existem duas pessoas que vivam no mesmo mundo, assim como não existem duas representações. Sendo assim, em cada um de nós existe um mundo completamente diferente do mundo do outro e é a partir desta visão de mundo que a pessoa se posiciona diante daquilo que a cerca. E é justamente sobre isso que aqui vamos tratar. Algumas pessoas olha

Ainda para as moças*

Não há nada de muito novo atualmente. Só mais tarde, bem mais tarde, as meninas darão conta das escolhas que fizeram, ainda que não definitivamente, quanto ao modo de se comportarem, quanto às amigas que elegeram para frequentar, quanto às prioridades, aos rapazes e a relação com os pais. Não há nada de muito novo atualmente e observo articulações bem parecidas entre as moças de hoje com as das moças de algum tempo atrás. Vejo as moças de hoje e faço análises e comparações com a mocidade que eu vivi. As mesmas armações, ilusões, decepções e batalhas travadas entre ser e ter, ser e ser ou não ser. Ainda se roga por liberdade, ainda se pretende ser diferente e especial. A mais bonita, a mais sabida. Ainda se espera a felicidade, mesmo nos tempos de hoje, onde tão pouco se acredita no futuro, em Deus e na família. Ainda procuram o amor, ainda que disfarçado em autonomia sobre a sua sexualidade. Ainda querem amar e pobrezinhas, divididas entre os conceitos feministas, mal

O sonho*

Sonhe com aquilo que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que quer. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passaram por suas vidas. *Clarice Lispector

A palavra mágica*

Certa palavra dorme na sombra de um livro raro. Como desencantá-la? É a senha da vida a senha do mundo. Vou procurá-la. Vou procurá-la a vida inteira no mundo todo. Se tarda o encontro, se não a encontro, não desanimo, procuro sempre. Procuro sempre, e minha procura ficará sendo minha palavra. *Carlos Drummond de Andrade

Sobre a origem da poesia*

A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem. Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a origem do discurso não-poético, já que, restituindo laços mais íntimos entre os signos e as coisas por eles designadas, a poesia aponta para um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios ou telefonemas. Como se ela restituísse, através de um uso específico da língua, a integridade entre nome e coisa — que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no decorrer da história. A manifestação do que chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma possível infância da linguagem, antes que a representação rompesse seu cordão umbilical, gerando essas duas metades — significante e significado. Houve esse tempo? Quando não havia poesia porque a poesia estava em tud

Mito de Narciso*

Sempre me fascinaram estes mitos de homens que desobedeciam aos deuses Ah, eram muito corajosos!!!.... Muitas vezes , para nós, já nos é difícil desobedecer professores, chefes, papai ou mamãe.... Um deles, o mito de Narciso. Narciso, "aquele que não deveria se ver". Condenado pelos deuses a não poder se olhar a si mesmo. Deveria evitar espelhos e reflexos na água. O que poderia revelar o reflexo de si mesmo a Narciso? O que revela o reflexo meu sobre mim mesmo? Verdades.... Mentiras... Ilusões.... Autenticidades.... Um belo dia a sede venceu Narciso. Para matar a sede viu a si mesmo refletido no espelho das águas. Enamorou-se de si mesmo. Encantou-se com a sua ´própria imagem... Amor nenhum, nem ninfa nenhuma mais o sensibilizariam. Diz ainda o mito que a ninfa "Eco" enamorou-se de Narciso. E por ele foi desprezada. Como consequência emudeceu e foi destinada a viver nos penhascos. Apenas repetindo o eco das palavras pronunciadas pelos vales. Narcis

Somos o que Lemos ?*

Querido leitor, que você esteja bem. Dias desses, quando passava por uma das salas onde trabalho, flagrei um colega lendo um livro escrito por uma conhecida socialite. A obra falava sobre regras, normas, formas de agir quando em uma reunião social. Como se não bastasse, ainda dava dicas de roupas, posturas e até algumas frases prontas para diálogos previsíveis. De repente, ele me deu abertura e me vi falando ao colega de trabalho. Carinhosamente perguntei: “Você não tem um autor ou autora melhor para ler?” Como resposta, recebi outra pergunta dele. “Tem alguma recomendação?”, perguntou-me o colega, fazendo um movimento corporal como se realmente tivesse interessado na resposta. Diante do exposto e do contraposto, sugeri que ele pudesse iniciar pelas biografias de grandes pensadores, pintores, artistas, pessoas que fizeram a diferença na história. “Por exemplo?”, perguntou novamente ele. De chofre, sugeri Fernando Pessoa, Cecilia Meireles. Ao que foi emendado a um comentári

Soneto da Falta de Sensatez*

Palavras bonitas queria dizer Mas, hoje, a inspiração me falta. Sem saber o que escrever Fico sentado, olhando a pauta. Querendo ser um pouco sensato Sem sentimentos abundantes Vejo coisas, na imaginação, distantes Fitando a sola de um sapato. Palavras giram ao meu redor. Sem nada terem me transmitido Vão junto ao vento, embora. E deixando um vazio agora Vejo um infinito maior De palavras sem sentido...   *Vinicius Fontes Filósofo, Filósofo Clínico Rio de Janeiro/RJ

Um cego*

Não sei qual é a face que me fita Quando observo a face de algum espelho; No seu reflexo espreita-me esse velho Com ira muda, fatigada, aflita. Lento na sombra, com as mãos exploro Meus invisíveis traços. O mais belo Fulgor me atinge. Vi o teu cabelo Que é já de cinza ou é ainda de ouro. Repito que perdi unicamente A superfície sempre vã das coisas. O consolo é de Milton e é valente, Mas eu penso nas letras e nas rosas, Penso que se pudesse ver a cara Saberia quem sou na tarde rara. *Jorge Luis Borges  

Fragmentos poéticos, filosóficos*

Para mim. A história das minhas loucuras. Há muito me gabava de possuir todas as paisagens possíveis, e julgava irrisórias as celebridades da pintura e da poesia moderna. Gostava das pinturas idiotas, em portas, decorações, telas circenses, placas, iluminuras populares; a literatura fora de moda, o latim da igreja, livros eróticos sem ortografia, romances de nossos antepassados, contos de fadas, pequenos livros infantis, velhas óperas, estribilhos ingênuos, ritmos ingênuos. Sonhava com as cruzadas, viagens de descobertas de que não existem relatos, repúblicas sem histórias, guerras de religião esmagadas, revoluções de costumes, deslocamentos de raças e continentes: acreditava em todas as magias. Inventava a cor das vogais! - A negro, E branco, I vermelho, O azul, U verde. Regulava a forma e o movimento de cada consoante, e , com ritmos instintivos, me vangloriava de ter inventado um verbo poético acessível, um dia ou outro, a todos os sentidos. Era comigo traduzi-l

Dos sentidos da leitura*

Uma obra pode se traduzir em múltiplas direções. Ao reescrever-se aprecia significar, criticar, derivar, tendo como ponto de partida uma autoria. Os sentidos da leitura se deixam encontrar nos recantos da literalidade, onde a história, seus personagens e roteiros convivem com uma mensagem em movimento.    A plasticidade de seu discurso se atualiza na re_visão de cada página. Num enredo deslocável, multiplica-se de acordo com a estrutura do leitor. Ao inexistir um só olhar, é possível desler o teor narrativo do autor inicial. Para superar a primeira vista e reiniciar a obra, muitas vezes, é preciso subverter suas origens, descobrir um não querer ser dito, nas entrelinhas do discurso primeiro. A chance de se reconhecer por inteiro na obra é muito rara, quase sempre restarão acréscimos, discordâncias, críticas à narrativa precursora diante do fenômeno leitor.  Um texto, embora possa oferecer uma polissemia hermenêutica, possui uma coerência interna com a subjetividade do escr

Sim e não*

O ponto de encontro Da alma do homem Com a alma do mundo É a Psique Não há encontro sem dor Não há encontro sem morte No mais profundo de nós Os deuses esperam Só nos jogando Só nos entregando Só nos analisando A vida em sua dialética Diz Sim! E mesmo dizendo Não Se realinha! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Projeto de Prefácio*

Sábias agudezas… refinamentos… - não! Nada disso encontrarás aqui. Um poema não é para te distraíres como com essas imagens mutantes de caleidoscópios. Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe Um poema não é também quando paras no fim, porque um verdadeiro poema continua sempre… Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras. *Mario Quintana

Contato com o Bicho de Sete Cabeças*

Artista, louco, rebelde, incompreendido? O dono da biografia que inspirou o filme "Bicho de sete Cabeças" foi Membro da Comissão de Saúde Mental do Ministério da Saúde e Representante dos Usuários no Conselho Nacional de Reforma Psiquiátrica. Prestamos a ele nossa homenagem, pela passagem do 18 de maio, dia da luta antimanicomial, por ter sido importante ativista na divulgação dos horrores dos tratamentos físicos e maus tratos que denigrem a alma humana e a condição de ser vivente. Acompanhamos parte da trajetória e trocamos algumas informações com esse artista das letras e dos palcos. Austregésilo Carrano passou confinado por três anos e meio em instituições psiquiátricas do Paraná e Rio de Janeiro, dos 17 até 21 anos. Sobreviveu a 21 aplicações de Eletroconvulsoterapia – choques numa voltagem de 180 a 460 volts aplicados nas temporas. Seu livro “Canto dos Malditos” é um relato fiel sobre as torturas a que foram submetidos os pacientes psiquiátricos dentro dos m

Congresso Internacional do Medo*

Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, não cantaremos o ódio porque esse não existe, existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas. *Carlos Drummond de Andrade 

Manual de mim!*

Vou lhe fazer uma pergunta simples: como é que você funciona? Veja que interessante, quando vamos ao médico, com suas ferramentas, conhecimento da fisiologia, anatomia e outras questões mais, ele sabe dizer se estamos funcionando bem ou mal.  Quando nos relacionamos com outras pessoas, algumas vezes alertamos sobre o que gostamos ou não, o que aceitamos ou não, assim acabamos, até certo ponto, dando uma ideia de como funcionamos. Quando vamos preparar um almoço ou até mesmo comer em um restaurante escolhemos os alimentos de acordo com aquilo que nos faz bem. Quando compramos um shampoo também temos o cuidado de escolher um que possa tratar bem nossos cabelos, não deixar caspa, ponta dupla, ressecado. Todas estas questões mostram que num nível bem básico boa parte das pessoas tem que se conhecer um mínimo possível para viver bem. Mas, em muitos casos, boa parte das pessoas não se conhece a níveis mais profundos que os colocados acima. Quando pergunto pelo seu funcionamento

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