Querido leitor, que
você esteja bem. Dias desses, quando passava por uma das salas onde trabalho,
flagrei um colega lendo um livro escrito por uma conhecida socialite. A obra
falava sobre regras, normas, formas de agir quando em uma reunião social. Como se
não bastasse, ainda dava dicas de roupas, posturas e até algumas frases prontas
para diálogos previsíveis.
De repente, ele me deu
abertura e me vi falando ao colega de trabalho. Carinhosamente perguntei: “Você
não tem um autor ou autora melhor para ler?” Como resposta, recebi outra
pergunta dele. “Tem alguma recomendação?”, perguntou-me o colega, fazendo um
movimento corporal como se realmente tivesse interessado na resposta.
Diante do exposto e do
contraposto, sugeri que ele pudesse iniciar pelas biografias de grandes
pensadores, pintores, artistas, pessoas que fizeram a diferença na história.
“Por exemplo?”, perguntou novamente ele. De chofre, sugeri Fernando Pessoa,
Cecilia Meireles. Ao que foi emendado a um comentário tendencioso: “Sei lá,
algo mais produtivo do que essas futilidades que estás lendo”, disse.
Depois daquela
conversa, resolvi fazer uma lista de autores para recomendar não só a ele, mas
também a algumas pessoas de meu relacionamento que gostam de ler. Procurei ser
cuidadoso. A lista começou com Maiakovski, Nietzsche, Wittgenstein, Fernando
Pessoa, Cecilia Meireles, Van Gogh.
Refleti mais e melhor e até agora não concluí. Explico.
Nietzsche ficou louco,
Fernando Pessoa era dado a bebida, Van Gogh suicidou-se, Wittgenstein
alegrou-se quando soube que tinha pouco tempo de vida, pois esse mundo era
demais para ele, não aguentava viver com tanta angústia. Cecilia Meireles
sofria de uma depressão crônica, Maiakovski também tirou sua vida.
Depois daquela data,
continuei a refletir sobre este caso. Por ora, concluo que ainda acredito que
educar é dar exemplos. Que as palavras comovem, mas os exemplos arrastam. Isso
ainda é um conceito forte em minha formação, mas não só isso.
Agora, se a pessoa não
é o discurso, se ela faz uma coisa e fala outra, ainda assim podemos aprender.
Sim, podemos crescer com sua obra. Assim como o mapa não é o território, como o
diagnóstico não é a pessoa, também algumas obras não são seus autores. É uma
referência, mas não traduz quem eles são, pelo menos não o todo.
Hoje, um pouco mais
harmonizado, ressignifico minha postura diante de meu colega que lia um livro
de etiquetas e concluo que está tudo certo. Ele, o meu colega, não se restringe
a um livro, ele é muito mais do que isso. Portanto, aquele livro de etiquetas não
é ele, e nem os livros que porventura vou sugerir que leia.
É assim como o mundo me
parece hoje. E você, avalia que somos o que lemos, que os autores são o que
escrevem?
Beto Colombo
Administrador de empresas, Filósofo Clínico, Coordenador da Filosofia Clínica na UNESC
Criciúma/SC
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