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Em outras palavras*

   









"Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra."
                     Carlos Drummond de Andrade

Um dos indícios de um novo padrão existencial é a estrutura discursiva esquisita. Noutras palavras se apresenta a vida numa perspectiva diferente. Um desses esboços por onde o vocabulário remete à estrutura de origem. Reconhecíveis por fora pela aceitação, discriminação ou incompreensão, sua transcrição aprecia emancipar olhares ao recriar o mundo ao seu redor.

Essa estranheza diante da inadequação linguística, denuncia um estado de ânimo a sugerir esse alguém que vem chegando. O universo das expressões desconhecidas parece insinuar-se através de uma estética própria. Sua pronúncia, nem sempre legível às anterioridades, convive em vias marginais, pelos arredores da literalidade. Ao se aproximar dessa fonte de equivocidades, é possível sentir a singularidade tentando acontecer.

Aquilo sem possibilidade numa língua, ao refugiar-se na imensidão de si mesmo, quando encontra a ocasião, o lugar, os meios, pode ressurgir como transgressão dos próprios limites, uma maldicção como suspeita de algo por vir.  

Em outras palavras, aquilo indescritível numa semiose, passa a ter uma visibilidade compreensiva noutra. As lonjuras existenciais podem se aproximar ao toque sutil do olhar deslocado. Quando encontra um meio para se dizer, aponta caminhos, descortina sua fonte de diálogos, desdobra-se para ser reconhecível. Seu teor de vida nova compartilha-se na estrutura de pensamento que o acolhe e protege. Uma verdade assim descrita, aprecia viajar-se, movimentando-se na porção infinita de cada manifestação.  

As contribuições dos termos agendados introduzem as traduções possíveis. Quando se encontram com a diversidade existencial de sua tribo, contribuem uns com os outros. Transformam a aptidão inquieta e de retórica desconhecida, nas possibilidades de um devir como página virada, anúncio.

A desconstrução da própria casa pode significar a singularidade em vias de tornar-se. Assim, o evento precursor, quando decifrado na estrutura de pensamento, já é outro. Se modifica com a transposição dos dados iniciais, persegue novas versões. A reescrita existencial considera os horizontes improváveis.  

*Hélio Strassburger

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