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Universais*


Existe um termo universal que diz mais ou menos assim: somos os livros que lemos, os filmes que assistimos, as coisas que comemos...

Bem, de fato alguma coisa do lemos nos faz ser quem somos e como pensamos. Os filmes que escolhemos para assistir mostra o que queremos e se queremos compactuar com a mensagem sugerida e, claro, que os alimentos que comemos nos faz mais ou menos saudáveis do ponto de vista fisiológico.
Entretanto, aceitar qualquer que seja o universal como verdade absoluta seria ingenuidade de nossa parte! Não acham?

Cada pessoa é um universo particular, uma singularidade intransferível, e, parafraseando Nelson Rodrigues: "A unanimidade é burra". Como podemos confiar nos livros mais vendidos, filmes que batem "record" de bilheteria? Deus! A maioria das pessoas tem preguiça de pensar, de questionar. 

Muita gente usa a roupa tal só porque está na moda. Eu gosto da moda do vestuário. Sou uma mulher vaidosa, mas só vou aderir a tal modismo se eu me sentir adequada com determinada peça ou não. O fato é que cada vez mais percebo "seres" sendo conduzidos por uma massa desesperada por alegria momentânea. 

Onde está a capacidade de lidarmos com nossas "sombras particulares"? É fácil demais fugir de nós mesmos o tempo todo, entretanto, não é uma atitude muito saudável. Se lembrarmos da máxima encontrada no templo de Delfos e repetida por Sócrates, mais ou menos, 500 anos antes de Cristo, " Conhece-te a ti mesmo" iremos parar para analisar o porquê da insistência do renomado pensador, ou não?

Não estou aqui para julgar ou apontar nada, tampouco tenho a arrogância de escrever um tradado do "bem viver". Estou na busca também, assim como diversas pessoas. Eu venho aqui desabafar minhas percepções da vida neste planeta louco em que habito e nesse país contraditório que pertenço, me preocupo e amo.
Sinto um ar de apatia na vida escolar. 

Chego muito feliz para ensinar filosofia no colégio que leciono e percebo que muitos jovens estão distantes, longe, num deslocamento que ainda não consegui perceber onde é, o porquê, nem se existe. Sempre existem aqueles questionadores de plantão, os atentos, uma variedade sem fim. Porém, na minha doce ingenuidade, pensava que conseguiria atingir a todos. Doce ilusão! Estes jovens são o reflexo da nossa sociedade brasileira. 

Filhos de pais que trabalham "pesado" para mantê-los numa boa escola e nutri-los de todas as suas necessidades materiais. Penso, hoje para estarmos mais ou menos atualizados precisamos de vários aparatos materiais. Celular da última geração, note book, transporte próprio e um cem número de outros "mimos". Aí paro e penso: quando teremos tempo para dar atenção aos nossos jovens, amigos, parentes? Temos muito trabalho para realizar, a vida nos cobra muito. E o calor humano? O olhar atento? O abraço apertado e o café com bobagens?

Ócio? Nem pensar!!!!
Só para pessoas desocupadas. Loucos. Insanos. Será?
Pois, pois...
Eis a questão!

Enquanto isso muitas pessoas estão consumindo vários aparatos para preencher o vazio existencial de si mesmo. E eu aqui escrevendo sei lá para quê? ou para quem? Talvez só para mim mesma. Sinto até um pouco de culpa agora. Eu aqui escrevendo, refletindo sobre questões existenciais enquanto várias outras pessoas trabalham, compulsivamente, para tentar sobreviver nesse nosso país desigual.

Às vezes me dá um pouco de vergonha de ser brasileira e poder viver dignamente. Sim! Vergonha! Sei que os miseráveis do nosso país depende da minha indignação em relação ao sistema político e econômico em que vivemos. Contudo, sinto-me impotente diante dos muitos ladões que nos governam. Existem uns que são bem intencionados, mas, tão poucos que dá até enjoo de pensar. É... O importante é que a copa está chegando! E aí, os menos avisados se sentirão felizes, alegres, muito brasileiros. Cantaremos o nosso hino com fervor de verdadeiros patriotas. E se a seleção brasileira ganhar então, a anestesia será quase que geral. E agora? O que fazer, então?

Esperar? Esperar o que de um povo quase sem instrução? De quem será a culpa, então? Do contribuinte? Dos governantes? Da educação? É! Eu não tenho resposta alguma por agora. Terminarei com a máxima do filósofo citado acima: "sei que nada sei"!!! E lamento

*Vanessa Ribeiro
Professora de Filosofia, Professora de Teatro, Filósofa Clínica
Petrópolis/RJ

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