A música do espaço
pára, a noite se divide em dois
[pedaços.
Uma menina grande,
morena, que andava na minha
[cabeça,
fica com um braço de
fora.
Alguém anda a construir
uma escada pros meus
[sonhos.
Um anjo cinzento bate
as asas
em torno da lâmpada.
Meu pensamento desloca
uma perna,
o ouvido esquerdo do
céu não ouve a queixa dos
[namorados.
Eu sou o olho dum
marinheiro morto na Índia,
um olho andando, com
duas pernas.
O sexo da vizinha
espera a noite se dilatar, a força
[do homem.
A outra metade da noite
foge do mundo, empinando
[os seios.
Só tenho o outro lado
da energia,
me dissolvem no tempo
que virá, não me lembro mais
[quem sou.
*Murilo Mendes
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