A verdadeira arte só
encontra força para germinar em meio ao caos, ao desespero e a confusão.
André Cardoso Czarnobai
A arte trabalha com
signos, ícones que atravessam nossos sentidos e se dirigem ao inconsciente.
Cada vez que acontece a manifestação artística através da produção de uma obra,
o artista deseja, entre tantas coisas, extirpar seus demônios; essa é a maneira
que ele encontra para se expressar; sendo um perscrutador de caminhos, desnuda
sua alma.
Marcel Duchamp afirma
que o artista tira as certezas, mas sem colocar outras no lugar das que
desaparecem, ele é um eterno buscador de novos paradigmas; provocando através
da observação de sua obra a procura por um novo olhar, tão urgente em um mundo
ávido por formas criativas de comunicação.
O artista desenvolve e
torna visível um universo próprio; mantendo sua inquietação através de sua
obra, buscando em seu cotidiano elementos que se tornaram invisíveis ao olhar
humano, muitas vezes desavisado e rotineiro, tornando-os novamente visíveis.
Para haver a criação
artística é necessário que o artista possua capacidade de entrega e de
diversidade, aliados ao conhecimento de técnicas diversas, para que ocorra o
exercício dessa expressão. Desse modo o artífice permanece fiel a si próprio,
porém se concede redefinidas inovações, soltando a imaginação e permitindo que
a criatividade o possua inteiramente.
Através da produção artística,
o artífice tenta organizar o caos interior profundamente instalado em seu
íntimo, transformando sentimentos em objeto; sua obra expõe toda a expiação
transmutada no fazer aquele objeto.
Neste ponto de nosso
entendimento podemos inquirir: haverá realmente uma criação genuína? De onde
são resgatados os símbolos contidos na obra?
Por meio de sua
criação, o fazedor é movido pelo prazer da experimentação e pela incessante
busca de aspectos originais do cotidiano, traduzindo e corporificando seus sentimentos
através de sua obra. Em cada objeto nascido das entranhas do artista, fica
gravado um quê de sua alma e repare que esse indivíduo nunca não é o mesmo de
instantes atrás, pois está em constante evolução.
Seu mais recôndito
anseio é estreitar o diálogo entre ele e sua obra, fazendo brotar o rico
universo das sensações; dessa maneira a emoção vivida se corporifica.
Inúmeras vezes o
artista não tem a pré-ocupação em ser entendido, aceito ou admirado; sua
motivação mor é a auto-expressão. Toda a experiência vivida no cotidiano
remete-o a seu íntimo, ao epicentro de si e torna-se fonte de inspiração; é
assim que ele produz, atribuindo significados ao mundo através de sua obra.
Qual o sentido para o
fazedor de uma obra de arte? Acreditamos que acima de tudo, seja o de preencher
um vazio, profundamente existencial, pois todo artista é um ser complexo,
assoberbado de emoções, inúmeras vezes contraditórias; no momento em que as
expressa, já não se sente tão atormentado por elas.
O artista nos alicia a
ver que a percepção tem algo de único e pessoal, e assim nos inclui no momento
presente, abertos a intuir seus desdobramentos futuros; ele nos convida a
aguçar nossa percepção – pois cada indivíduo é oportunizado a alargar seus
horizontes, através do sentimento desperto pela obra.
O artífice busca
desmanchar qualquer sentido que se insinue, para que, ao contemplarmos sua
criação, retornemos à percepção; esse é o traço humano que devemos eleger,
traço não óbvio e nada figurado, porém urgente num mundo carente de tal
qualidade.
A produção artística
retira a solução, para colocar ao espectador – a cada um de nós – a tarefa de
perceber sua própria busca por sentido, no olho que olha e no espírito que
sente.
Adorno profetiza a
busca da felicidade através da arte. Sabemos que nada fala mais forte em favor
da arte: o diálogo da alma da obra com o espectador é esse seu fidedigno
sentido.
*Mariah de Olivieri
Filósofa. Mestre em Filosofia. Artista Plástica. Poeta. Estudante de Filosofia Clínica na Casa da Filosofia Clínica em Porto Alegre/RS
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