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Educação para a Existência*



Nada é real, tudo é convenção. Se o real é convenção e a convenção está dentro do real, a convenção também é real, assim como nada é convenção e tudo é real.
                                                       Rogério de Almeida
      
        Somos muito mais que a fronteira do que está submerso na consciência. Consideramo-nos indivíduos pós-modernos.  Contudo, se formos honestos conosco, admitiremos o quanto somos convencionais.

         Precisamos ver essa área de nossa existência como um ponto de partida, um meio de enxergar nosso padrão convencional, repetitivo e responsabilizar-nos pela criação de uma nova realidade. O nunca experimentado, o desconhecido, o alheio, são razões que geram a universalidade presente no inusitado.

         Temos a inclinação de manter o nosso modo em tudo e, quando outro alguém nos brinda com uma novidade, pensamos com nossos botões: não dará certo, a minha maneira é a melhor; por que mudar? A resistência ao singular é prova cabal de nosso retrógrado costume em encarar a vida.

         Desde a infância fomos ensinados a nunca olhar para dentro, a não saber o porquê de vivermos da maneira que vivemos e a não questionarmos nossas escolhas. Essa maneira restritiva, desconectada de nosso Self, faz com que deixemos de lado nossa estima e poder pessoal. Frustrados, buscamos alguém ou algo que sacie todo o vazio que circunda nossa existência.

         Quiçá esse arbitrário modo de ser não está nulificando o crescimento em nossa vida? Será que ainda optamos pelo nosso jeito? Não podemos permitir que o modelo arcaico de pensamento impeça-nos de enxergar adiante.

         O questionamento é uma das formas mais propícias que o indivíduo deparou para descobrir o sentido humano da existência. Palco da magia, espaço do sagrado, a interrogação acerca das certezas, tem por cerne a transvaloração. A dúvida faz o indivíduo ir além. Porém, para que este gesto depare a poeira da veracidade, é imperiosa a manifestação plena do querer ir além. Urge decidir seguir o que nos proporciona bons resultados, abandonando o ultrapassado.

         Temos que aprender um novo pensar, um novo querer, sentir, agir e reagir; porém, essas transmutações apenas serão viáveis aos que buscam e amam o entendimento, aos que não temem a mudança de paradigmas.

         Evadir-se de rotineiros interesses e caprichos pessoais e vislumbrar o desafio do desconhecido é recomendável. A certeza que brota desta atitude é que coloca-nos asas, permitindo-nos o complexo voo.

         Sempre poderemos optar por um novo rumo: em nossa existência, em nossa postura diante dessa. Continuamente teremos um caminho a decidir: desconhecido ou convencional, inusitado ou seguro. Nosso norte deve ser nossa consciência e o permanente compromisso com nosso caráter.

         Urge que sejamos mais verdadeiros, mais posicionados, mais unos com a veracidade de nossa verdade interna. O novo amedronta. Porém, como saber se não ousarmos experimentar?

         Necessitamos atuar na contracorrente, abalar o pensamento convencional e obrigar-nos a questionar nossas atitudes diante do mundo, do que tomamos por certo.

         Quanto mais convencionais forem nossos atos e posturas, mais acorrentados ao lugar comum estaremos. Mister é zarpar da zona de conforto e conhecer novas idéias e ideais. Um ato que brota pleno de desejo explicita o sentido de transbordamento, de novos ares.

          Necessitamos criar condições internas de mudar nossa realidade, trazendo mais preenchimento para nossas vidas. Ter a coragem intelectual de se colocar contra o estabelecido. Trazer um mundo diferente, distante, para perto, de modo que o humano sempre se sobreponha. Questionar nossas convenções e nos colocarmos diante de nossas responsabilidades o tempo todo, mantendo um diálogo permanente com nossas atitudes e escolhas.

         Profundamente lamentável é que inúmeros indivíduos tentarão se convencer do contrário, querendo crer em motivos que justifiquem sua covardia. Como experienciar o novo, se não o permitirmos? É pela prática que comprovamos a eficácia de nossa liberdade de ação.

         Para quem gosta de abismos é preciso ter asas, precipita Nietzsche, àqueles que têm a urgência de ultrapassar as fronteiras do versado.

* Mariah de Olivieri
Filósofa, Mestre em Filosofia, Artista Plástica, Poetisa, Estudante na Casa da Filosofia Clínica
Porto Alegre/RS

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