Há no coração de cada
um de nós, por essência, uma música que é somente nossa, inigualável,
intransferível. Por várias razões, conhecidas ou não, às vezes aprendemos desde
muito cedo a diminuir, gradativamente, o seu volume e inventar ruídos que nada
tem a ver com ela para nos relacionarmos com nós mesmos e com os outros.
Até
que chega um tempo em que desaprendemos a entrar no nosso próprio coração para
ouvi-la e, porque não passeamos mais nele, porque não a ouvimos mais, não é
raro esquecermos completamente que ela existe.
Mas, como toda ignorância, toda
indiferença, toda confusão, não são capazes de apagar a beleza original dessa
partitura impressa na alma, ela continua tocando, ainda que de forma
imperceptível. Continua tocando, à espera do dia em que, de novo ou pela
primeira vez, possamos aumentar o seu volume, trazê-la à tona, compartilhá-la.
Continua tocando, e alguns são capazes de escutá-la mesmo quando não
conseguimos.
Todo encontro genuíno
de amor é também o encontro de duas pessoas que conseguem ouvir a música uma da
outra e sentir alegria e descanso com aquilo que ouvem. Conseguem ouvir, não
importa quantos ruídos tenham inventado pelo caminho para se proteger da dor
afastando a vida.
*Ana Cláudia Saldanha Jácomo
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