Como seres humanos,
nada nos é dado automaticamente. Temos que desenvolver cada aspecto de nosso
ser para nos mantermos vivos. Inclusive pensar. Pensar é um ato de escolha. O
cérebro nos é concedido, mas não seu conteúdo. Temos as ferramentas, mas podemos
evadir do processo de pensar. Não nos é dado por instinto o conhecimento das
coisas e nem de nós mesmos. Há um esforço que temos que decidir se vamos
realizar ou não: pensar ou não pensar?
Claro que há vários
sentidos em que podemos falar do pensar. O que proponho aqui é um pensar ativo,
não uma simples apreensão de algo. E também não um processo isolado. Um pensar
dialético das coisas do mundo com nós mesmos e com os outros.
Pensar seria
entrar em diálogo com nós mesmos sobre as coisas do mundo. Um pensar sobre as
coisas sem refletir por que ou como as definimos de uma ou outra maneira, não é
pensar. É fazer uma colagem da primeira impressão para um espaço definido para,
exatamente, não mais precisar pensar sobre as coisas.
Essa maneira de definir
coisas do mundo sem pensar sobre o que pensamos sobre elas é uma maneira de
fortalecer o preconceito paralisante (há o preconceito bom, que não nos
paralisa, mas nos movimenta) e a estagnação mental. É colocar definições junto
com muros altos para evitar termos que revê-las futuramente.
Está tudo
definido, cada coisa “em seu devido lugar” e assim matamos nossa potência de
pensar. Quando não pensamos, ou seja, não entramos em diálogo com nossas
impressões primeiras sobre o que pensamos do mundo, acabamos, mais cedo ou mais
tarde, agindo por automação. Agir assim é o contrário de agir com autonomia, o
que, de certa forma, é um dos resultados do pensar.
Pensando o pensar como
diálogo interno sobre as coisas do mundo, temos apenas que ter o cuidado de não
fazermos isso isolados. Ficar sozinho em uma montanha gelada, dentro de um
quarto, em uma cadeira em frente à lareira pensando seu pensar sobre o mundo
não é maneira profícua de tratar sobre o pensar. O outro, tomando-o como
alteridade, também faz parte do pensar de cada indivíduo. Na medida em que
confrontamos o nosso pensar dialético com outros, temos a grande chance de
manter nosso pensar em atividade e chegar mais longe na construção de nosso
próprio pensar.
Conhecer-se a si mesmo mas não somente consigo mesmo é uma das
lições da filosofia e de Sócrates. Manter a atividade do pensar e contrastá-la
com outros pensares é uma forma de medir nossa própria estatura cognitiva e
percebermos que o maior pensar sozinho ainda é pequeno se não entrecruzado com
outros pensares.
Pensar não é um
processo automático e nem de pouca monta. Defender a atividade mental para não
cair no exílio do automatismo é um exercício que quase se torna moral, pois se
ainda, de alguma forma, não podemos nos evadir do fato de sermos seres
racionais, precisamos da decisão de nos tornarmos seres pensantes ou não.
*Fernando Fontoura
Filósofo, Mestrando em
Filosofia, Estudante na Casa da Filosofia Clínica
Porto Alegre/RS
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