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Tudo que é sólido desmancha no ar*


"Se encararmos o modernismo como um empreendimento cujo objetivo é fazer que nos sintamos em casa num mundo constantemente em mudança, nos damos conta de que nenhuma modalidade de modernismo jamais poderá ser definitiva. Nossas construções e realizações mais criativas estão fadadas a se transformar em prisões e sepulcros caiados; para que a vida possa continuar, nós ou nossos filhos teremos de escapar delas ou então transformá-las. É o que sugere o homem do subterrâneo de Dostoievski em seu infindável diálogo interior."

"Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas ao redor - mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. A experiência ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de ambiguidade e angústia. Ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como disse Marx, 'tudo que é sólido desmancha no ar'."    

"Arte, ciências físicas, teoria social (como a do próprio Marx), tudo isso são modos de produção; a burguesia controla os meios de produção na cultura, como em tudo o mais, e quem quer que pretenda criar deve operar em sua órbita de poder."

"Baudelaire tem toda a razão em lutar contra a confusão entre progresso material e progresso espiritual - uma confusão que persiste em nossos século e se torna especialmente exuberante em períodos de boom econômico."

"(...) as contradições que animam a cidade moderna ressoam na vida interior do homem na rua."

"Citando Gogol: (...) 'Pishkarev, uma figura bem mais complexa, é talvez o único personagem genuinamente trágico de toda obra de Gogol, e aquele a quem Gogol mais entrega o coração. Enquanto o oficial persegue sua loira, seu amigo, o artista, é tomado de amor pela morena. Ele a imagina uma grande dama e treme ao se aproximar dela. Quando finalmente o faz, descobre ser ela de fato uma prostituta, cínica e fútil. Pirogov, é claro, saberia imediatamente, mas Pishkarev, um amante da beleza, carece de experiência de vida e conhecimento do mundo para compreender a beleza como máscara e mercadoria (da mesma forma, conta-nos o narrador, é incapaz de explorar seus quadros como mercadorias: fica tão encantado quando as pessoas apreciam sua beleza que deles se separa por muito menos que seu valor de mercado). O jovem artista se recupera de seu sentimento de repulsa, primeiro, e imagina a moça como uma vítima inocente: resolve salvá-la, inspirá-la comm seu amor, levá-la para seu sótão, onde viverão de amor e arte."

"São sonhos, sobretudo, que unem artista e rua."

*Marshall Berman 

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