Sim! É muito possível
um casal se manter apaixonado até o ultimo dia de suas vidas juntos e, consta
da lista de fatores que contribuem para esta proeza, o nosso antigo amigo
respeito que gera admiração, autoestima, segurança e, enfim, tesão em viver junto,
em cuidar do bem-estar do outro em querer proporcionar prazer.
Uma relação apaixonada
não precisa ser somente aquela coroada de sexo a qualquer custo. É certo que
sexo com a pessoa que a gente ama é bom de qualquer jeito e a qualquer hora,
contudo um casal que presta atenção no que é importante para cada um, consegue
manter viva a luz do encantamento em todos os momentos da vida que dividem.
A química do amor é
mantida com doses permanentes de cuidados. É bom lembrar que um casal é
constituído de duas pessoas e que a vontade de manter para sempre o ar de
namoro, depende dos dois.
Buscar encantar um ao
outro com paciência, silêncio quando necessário, carinhos inesperados e
cuidados com a aparência, ajuda muito. Encantar com a inteligência, com a humildade
e com o sorriso gostoso, também. Gestos de desprendimento aos conceitos
individuais e as nossas manias, surpreendendo o amor da gente e querendo dizer:
sou capaz disso por você e não cobrar do outro o que você disse que daria por
amor, são propostas implícitas ao comportamento do homem e da mulher e evitam
sobremaneira o desgaste diário na relação cotidiana facilitando bastante o
caminho para o desejo.
É bom lembrar que a
química do amor, segundo a neurociência, tem prazo de dois anos para acabar e o
casal que não descobrir neste prazo como frutificá-la, estará sujeito a buscas
permanentes por amores efervescentes.
Nenhum fetiche sexual
tem o poder de acender o fogo que foi apagado pela insensatez de um casal que
disputou que jogou e brincou com os sentimentos um do outro. Fingir que não
precisa do outro, se fazer de difícil demais, desprezar, rejeitar, criticar,
cobrar, impor regras, são posturas fulminantes para uma relação que sonha ser
apaixonada.
Não tem calcinha
vermelha, bumbum empinado, Camaro amarelo ou cartão sem limite, que traga a
paixão de volta a uma relação estável desgastada. Artifícios dessa natureza
costumam atender apenas a propostas efêmeras de um amor fugaz e sem sentido.
Atendem a encontros fortuitos, únicos e isolados entre pessoas que estão
radicalmente decididas a viverem só e para sempre.
Por outro lado estas
brincadeiras eróticas e quebra de rotina costumam funcionar muito para os
casais fortes. É para aqueles que conquistaram este direito regando todo dia
uma plantinha frágil. Ou seja, tudo vale e tudo é o máximo quando o casal é
feliz. Algemas Pink, cueca de couro, chicote, cheirinhos, dadinhos, tudo isso
só tem efeito quando existe vontade. E nos dois. Caso contrário, soa
agressivamente, transgressivamente.
Certa vez me contaram
uma piada que caracteriza bem o que tento dizer aqui:
Numa noite, um casal
desgastado, os dois fora de forma, o marido já sonolento em frente da
televisão.
A mulher aparece na
sala, fantasiada de mulher gato e faz um singelo, miauuuuu para o marido.
Quando o marido
desatento diz:
Fala aí Batman, cadê
a janta?
Os casais que se propõe
viver juntos estão brincando de casinha. Estão se baseando em novelas e reality
shows. Mulheres procuram homens cinzentos** e tão irreais quanto é irreal o seu
ideal de compartilhar em amor. Homens dizem amar movidos por um ímpeto erótico
apenas. Os desejos são pequenos e falta tempero para fixar o paladar, para
manter na memória o bom de estar um nos braços do outro, o bom de esperar pela
hora de estar perto do outro. O gosto da boca que já se conhece, o cheiro do
corpo familiar e agradável, a voz que acalma ou até irrita à vezes, e que faz
rir. A confiança, a certeza de, sem nenhum vestígio de possessividade, aquela
pessoa ser sua, ser para você, simplesmente por que vocês querem.
Para mim, a traição é
inata à pessoa sem retidão e sem força de construção. A falta do tempero que
mantém viva a paixão pode ser apenas um pretexto, muitas vezes criado,
engendrado mesmo, por quem se acha merecedor de umas pitadas a mais de prazer e
satisfação além da relação.
Para que se esforçar se
em cada esquina há alguém disposto a repetir os mesmos erros? Para que perder
tempo em conversar, discutir a relação (fora da cama, é claro), aperfeiçoar,
saber do que o outro gosta ou precisa se tem gente em qualquer lugar, gente de
todo tipo, para recomeçar uma vida novinha em folha?
Se as marcas ainda não
ficaram muito profundas, mãos à obra.
A falta de diálogo
diante de tantas invasões das mídias, das infinitas atividades de lazer e da
preguiça em manter sólida uma construção que foi projetada e sonhada em
parceria com alguém, é muito comum hoje em dia. Tudo propõe que o casal viva
cada um para um lado, além do normal. Que o casal deixe de sonhar o mesmo sonho
que os uniu. Individualidade é essencial, mas bom senso costuma equilibrar bem
à medida como isto deve acontecer quando duas pessoas querem caminhar juntas.
Um sonho que se sonha
só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade.
Raul Seixas
*Jussara Hadadd
Filósofa clínica, psicoterapeuta, especialista em sexualidade feminina,
escritora, palestrante.
Juiz de Fora/MG
**Cinquenta Tons de cinza
E. L. James. Editora: Intrinseca
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