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Poética*


Estou farto do lirismo comedido. Do lirismo bem comportado. Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente, protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.

Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo. Abaixo os puristas. Todas as palavras, sobretudo os barbarismos universais.

Todas as construções sobre tudo as sintaxes de exceção. Todos os ritmos, sobretudo os inumeráveis. 

Estou farto do lirismo namorador. Político, Raquítico, Sifilítico. De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo. De resto não é lirismo. Será contabilidade tabela de co-senos, secretário  do amante exemplar, com cem modelos de cartas  e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc. 

Quero antes o lirismo dos loucos. O lirismo dos bêbados. O lirismo difícil e pungente dos bêbedos. O lirismo dos clowns de Shakespeare - Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

*Manuel Bandeira

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