Lembro-me do inverno,
quando criança. E dos dias prolongados de chuva. Não era preciso ficar triste.
O céu chorava por nós...
Muitas vezes não
tínhamos o que fazer. Quando não havia o que fazer, fazia-se o melhor.
Tínhamos um potreiro.
Com alguns pinheiros. Lembro-me do meu pai. Vestia-se de anjo ou de pássaro.
Imitava uma gralha azul. Recolhia pinhões.
E enfiava no chão.
Pinheiros levam uma vida inteira para ficar adultos. Isto não importava para
ele. Importava a alegria dos que viessem depois.
O potreiro continua lá.
Nas terras do meu pai. Não é mais o mesmo potreiro. Existe lá, agora, uma
floresta de pinheiros. Quando vou lá descanso na grama junto com meu pai.
Para lembrar-me que
ainda sou criança, chupo frutas e cuspo as sementes na terra. Sei que elas
germinarão. É que eu tenho mais afeição pelas coisas minúsculas, que pelas
maiúsculas.
Lembro-me de amores...
Sinto-me menor do que sou com tudo isto. Quebro com facilidade. Contudo, não me
jogo fora. Colo e remendo meus pedacinhos estilhaçados.
Não jogo fora, nem
sementes, nem amores, nem pedacinhos....
*José Mayer
Filósofo. Livreiro.
Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica
Porto Alegre/RS
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