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Mostrando postagens de novembro, 2015

Fragmentos filosóficos, delirantes*

"O mesmo poema é lido por várias pessoas, e cada uma delas faz dele o 'seu' poema. Assim funciona a imaginação: cada um precisa reimaginar por si mesmo." "A nova era só termina quando esses limites se tornam rígidos e convencionais, aguardando seu rompimento por outra descoberta, para que prossiga a marcha no rumo das próxima liberdade." "A obra de arte, ao contrário, é essencialmente uma proposição incompleta, que nos é apresentada para que com ela possamos construir nossa própria generalização." "E depois de ler essa passagem de Gertrude Stein, estilisticamente estranha (como A Rose is a Rose, is a Rose) [Uma rosa é uma rosa, é uma rosa], ela de repente nos faz perceber que os problemas que a preocupavam só podiam ser expressos daquela forma." "(...) a obra de arte nos ensina não só o que é agir como se fôssemos outra pessoa, mas também o que é ser outra pessoa." "(...) a história é feita por fanát

Entropia da Calêndula*

“Mas não tenho nenhuma certeza de que o porvir de vocês coexistia assim com o seu presente.” Henri Bergson A ordem é a desordem. Havia um tempo que a desordem era o momento em que as coisas começavam a tomar um ponto a seguir, que as direções se distribuíam conforme os seguimentos da existência pediam passagem. Hoje, o caos não é mais dessa proposição, ou seja, a expressão verbal dos conceitos deixa de ter legitimidade diante dos fatos que atropelam o uso da linguagem. Se o juízo de algo é mais do que uma verdade, se ele passa a ser um acontecimento destruidor, a proposição do que estou aqui a pensar não tem importância alguma de sua veracidade de enunciado. Esse pequeno esforço recreativo, quase um jogo do pensamento, é porque ando a refletir sobre os efeitos benéficos e maléficos das Verdades seculares, sejam elas de ordem das ideias, dos grandes movimentos e correntes do pensamento, ou da heresia quase suicida de afrontar ao uso analítico de conceituar tudo através da

Espiritualidade cristã e qualidade de vida*

Quando falamos em qualidade de vida, logo nos lembramos de uma alimentação saudável, exercícios, noites de sono bem dormidas e outras centenas de métodos que visam cuidar da pessoa de um modo que possa viver mais e melhor. Mas onde entra a espiritualidade cristã dentro do contexto da qualidade de vida? Hoje, o ser humano é visto como um todo. Não somos um compartimento com gavetas diferenciadas. Tudo o que faz parte de nós compõe aquilo que somos. E a espiritualidade está presente naquilo que faz parte de nossa existência em sua totalidade. Quando descuidamos da alimentação, o nosso corpo, as nossas emoções, o nosso humor, o nosso sono, a nossa autoestima, o nosso desempenho no trabalho, as nossas motivações respondem de maneira negativa. O mesmo processo acontece quando descuidamos de nossa espiritualidade. Todo o nosso ser responde negativamente. Uma qualidade de vida saudável também exige que a espiritualidade seja cuidada. Muitos adentram em complexos processos de

Fragmentos de alma primaveril*

"Saibam, pois, que a arte é: um caminho para a liberdade. Todos nós nascemos acorrentados. Um ou outro esquece os seus grilhões, revestindo-os de prata ou de ouro. Mas nós queremos quebrá-los. Não com violência torpe e selvagem; queremos nos desvencilhar crescendo até que eles não nos caibam mais."  "A criação do artista é uma insígnia: a partir de seu íntimo ele exterioriza todas as coisas pequenas e efêmeras: seu sofrimento solitário, seus desejos vagos, seus sonhos angustiados e aquelas alegrias que perdem o viço. Aí sua alma se engrandece e torna-se festiva, e ele criou o lar digno para si mesmo." "Cada um de nós recria a mundo ao nascer, porque cada um de nós é o mundo." "(...) a busca nostálgica de si mesmos. Seus maiores arrebatamentos provinham das descobertas que faziam em seu íntimo." "Fato é que cada um cresce em direção a si mesmo." "Não podendo a arte ser nacional em seus momentos de apogeu, se

Viver e morrer*

Estaríamos nós desprezando a presença da morte? Mais uma vez ela estava presente, ou melhor, ela sempre esteve. Por mais que não a enxerguemos, está rondando o ambiente. E, quando menos esperamos, aparece num último suspiro, acompanhada sempre de algumas indagações, medos, incertezas, sofrimentos, projetos inacabados e até mesmo alívios. Quando se recebe a notícia de que se está com uma doença terminal, se pensa logo que vai morrer. E, realmente, em algum momento vamos morrer... Só que não sabemos o momento.  Quando a morte é no “outro”, acabamos de alguma forma, morrendo um pouco. Apenas presenciamos, sabendo que em algum momento esta morte será no “eu”. Ainda assim, continuamos a viver como se nunca fossemos morrer, adquirimos coisas, fazemos planos e até colecionamos objetos, sem pensar que em algum momento vamos nos desprender deles. Essa é a forma através da qual a sociedade enxerga a morte. Falar de morte ainda é um tabu. Falamos de sexo, de drogas,

Fragmentos filosóficos, delirantes*

"Em sua essência, a linguagem não é expressão e nem atividade do homem. A linguagem fala. O que buscamos no poema é o falar da linguagem. O que procuramos se encontra, portanto, na poética do que se diz." "Poesia nunca é propriamente apenas um modo mais elevado da linguagem cotidiana. Ao contrário. É a fala cotidiana que consiste num poema esquecido e desgastado, que quase não mais ressoa." "A poesia de um poeta está sempre impronunciada. Nenhum poema isolado e nem mesmo o conjunto de seus poemas diz tudo. Cada poema fala, no entanto, a partir da totalidade dessa única poesia, dizendo-a sempre a cada vez." "O delirante pensa e pensa mais do que qualquer um. Mas nisso ele fica sem o sentido dos outros. Ele é um outro sentido." "O desprendido é delirante porque está a caminho de outro lugar." "Deixei uma posição anterior, não por trocá-la por oura, mas porque a posição de antes era apenas um passo numa caminh

Poéticas do indizível*

                                   Uma crença muito antiga aprecia atualizar-se nesse enigmático hoje que um dia foi amanhã. Poderia ser o pretérito imperfeito de uma busca ou aquele quase nada onde tudo acontece. Atualização de um dialeto nem sempre dizível, se alimenta nas fontes inenarráveis, nos paradoxos, nas desleituras criativas. Seu visar inédito sugere desvãos ao mundo que se queria definitivo. Costuma ser abrigo do acaso na versão do avesso das coisas. Ao referir o encantamento das pequenas devoções, parece ter a vocação de traduzir esse texto interminável, por onde a vida escoa seus segredos. Realiza um esboço sobre as tentativas de decifrar por inteiro um mundo que é mistério por natureza.      A característica de ser imprevisível seria insuportável, não fora a poesia re_significada numa lógica delirante. No submundo dos outros é possível reconhecer parte do nosso, isso pode acontecer no elogio ou crítica, censura ou aplauso. Essa contradição parece fundame

Você é um Envelhescente?*

Se você tem entre 45 e 65 anos, preste bastante atenção no que se segue. Se você for mais novo, preste também, porque um dia vai chegar lá. E, se já passou, confira. Sempre me disseram que a vida do homem se dividia em quatro partes: infância, adolescência, maturidade e velhice. Quase correto. Esqueceram de nos dizer que entre a maturidade e a velhice (entre os 45 e os 65), existe a ENVELHESCÊNCIA. A envelhescência nada mais é que uma preparação para entrar na velhice, assim com a adolescência é uma preparação para a maturidade. Engana-se quem acha que o homem maduro fica velho de repente, assim da noite para o dia. Não. Antes, a envelhescência. E, se você está em plena envelhescência, já notou como ela é parecida com a adolescência? Coloque os óculos e veja como este nosso estágio é maravilhoso: — Já notou que andam nascendo algumas espinhas em você? Notadamente na bunda? — Assim como os adolescentes, os envelhescentes também gostam de meninas de vinte anos. —

Tempestades*

Lembro-me. Quando aconteciam tempestades , com relâmpagos e trovões. Mamãe comentava: - É Deus riscando fósforos lá no céu - É São Pedro jogando bolão com os amigos. Naquele tempo eu acreditava... não havia nenhum mal nisso. Meu pai era um ator do cotidiano. Representava a vida em formas mais divertidas. Era engraçado. Gostava de fazer as pessoas rirem... Eu entendia ele. É que a vida é pouca para caber num dia. Pouca para caber numa semana. Pouca para caber num mês. É preciso inventar uma vida a cada dia. Hoje iludo-me pensando que entendo tudo isto melhor. Não acredito em vitórias antecipadas. Tenho dificuldade em acreditar em fatalidades do destino. Entro em briga com ele. E faço ele jogar a meu favor... Na monotonia morna de dias repetitivos, invento tempestades. E não me refugio dentro de casa. Nem acendo velas para o medo encolhido. Tampouco queimo palmas para a escuridão cega. Hoje, prefiro permanecer na tempestade. Alcanço a minha mão para os relâmpa

Motivo da rosa*

Não te aflijas com a pétala que voa: também é ser, deixar de ser assim.  Rosas verá, só de cinzas franzida, mortas, intactas pelo teu jardim.  Eu deixo aroma até nos meus espinhos ao longe, o vento vai falando de mim.  E por perder-me é que vão me lembrando, por desfolhar-me é que não tenho fim. *Cecília Meireles

A luz que cega!*

Há uma obra de José Saramago publicada em 1995 com tradução em várias línguas, chamada “Ensaio Sobre a Cegueira”. Esta obra tornou-se filme em 2008 pelas mãos do diretor Fernando Meirelles e também pode ser vista nos teatros. A história conta de um japonês que, por não conseguir enxergar, pede ajuda até que alguém o leva até em casa e acaba por roubar o seu carro. No dia seguinte o japonês e sua esposa vão ao oftalmologista para saber o que está acontecendo e aos poucos uma epidemia se alastra e, com exceção da mulher do oftalmologista, todos ficam cegos. Devido ao alastramento da epidemia o governo decreta quarentena e separa as pessoas cegas das outras, mas mesmo assim a epidemia continua se alastrando. Presos em uma construção, confinados a uma convivência sem a visão, os internos formam dois grupos e pouco a pouco a convivência se torna insustentável. Até que chega ao ponto em que um dos grupos, por questão de sobrevivência acaba por incendiar o lugar e fugir, mesmo às ceg

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A obra de arte é uma mensagem fundamentalmente ambígua, uma pluralidade de significados que convivem num só significante." "A ruptura de uma Ordem tradicional, que o homem ocidental acreditava imutável e identificava com a estrutura objetiva do mundo... Ora, desde que essa noção se dissolveu, através de um desenvolvimento problemático secular, na dúvida metódica, na instauração das dialéticas historicistas, nas hipóteses da indeterminação, da probabilidade estatística, dos modelos explicativos provisórios e variáveis, a arte não tem feito outra coisa senão aceitar essa situação e tentar - como é sua vocação - dar-lhe forma" "(...) as novas obras musicais, ao contrário, não consistem numa mensagem acabada e definida, numa forma univocamente organizada, mas sim numa possibilidade de várias organizações confiadas à iniciativa do intérprete, apresentando-se, portanto, não como obras concluídas, que pedem para ser revividas e compreendidas numa direção

Independência ou morte*

A moça é carinhosa, atenciosa, parceira, boa de cama e ainda assim não pede nada em troca. De verdade, eu gosto mesmo é de falar de amor. Gosto de dizer para as pessoas que me ouvem, que tudo é lindo, que o céu é infinito, que o mar é azul. Gosto de falar da sorte, gosto de mostrar o quanto a alegria faz viver e rejuvenescer. Gosto mesmo é de falar de amor. Como se amar não significasse nunca, nenhum ajuste para algum desajuste humano, quando um homem e uma mulher resolvem compartilhar a vida. Gosto mesmo é de sempre pensar, ingenuamente, que um casal pode ser feliz simplesmente. Me esqueço, de verdade, que um casal que quer amar é a soma complicada, difícil, interminável e quase infinita de um mais um. Quase me esqueço o que cada um em sua singularidade representa no mundo e como representa o mundo. E é aí que o universo aparece descolorido, realístico e impondo conceitos tão pequenos para seres que teriam tanto para serem felizes. É aí, neste mundo de inter

Receita de ano novo *

Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido) para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?) Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumidas nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto

Indiferença*

Características sutis Já não fazem diferença Salvo para os gentis O ser humano cultiva indiferença Crendo ser 'sabido' Mas um tanto perdido Aprofundou-se na loucura Da correria sem ternura! *Dionéia Gaiardo Administradora de Empresas. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos poéticos, filosóficos, delirantes*

"(...) clássico é um tipo primordial, fundador, em que vidas futuras se reconhecem e cujas pegadas seguirão - um mito, portanto, pois o tipo é mítico e a essência do mito é retorno, atemporalidade, onipresença." "Aonde chegaríamos se quiséssemos despir o conceito dos primórdios de sua natureza relativa ? Só existem começos relativos." "(...) a fronteira entre as atividades de poeta e escritor não passa por fora, pelo lado das aparências, e sim dentro da própria pessoa; (...)" "Na esfera de Lessing, nós nos acostumamos a relativizar as coisas, a humanizar o conceito de verdade, e nos habituamos à ideia de que os critérios do que é verdadeiro residem menos na verdade defendida do que naquele que a defende." "O gênio, podemos afirmar, revela-se onde aparece algo nunca antes intuído, onde algo nunca antes imaginado se materializa; (...)" "A natureza não oferece paz, simplicidade, univocidade; ela é o elemento d

A poesia e o instante*

O essencial é este agora aqui com você! No parar, observar e ... mais nada. O essencial é ser simples! Poesia a cada instante brotando da existência. Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Filósofa Clínica. Escritora. Juiz de Fora/MG

A Tentação*

Diante do crucifixo Eu paro pálido tremendo: “Já que és o Verdadeiro Filho de Deus  Desprega a humanidade desta cruz”. *Murilo Mendes

Um almoço na Feira do Livro*

Um rápido tempinho para um almoço. No mesmo lugar onde almoçamos juntos tantas vezes. Pedi um almoço simples, prato do dia. Leve, pra não machucar os sentimentos. Pouco, para não espantar as lembranças. Me avisam que demoraria quinze minutos. Legal, havia trazido caderno e caneta. Me pus a escrever: "O amor que tenho por ti É bem maior que a soma Dos amores da tua vida. Ah, se tu soubesses Como um homem ama Como é difícil para o homem amar Como é difícil para o homem amar de novo Ah, se tu soubesses Como ama um homem como eu...." Terminado o almoço, esqueci caneta e caderno sobre a mesa. Que culpa tenho por um esquecimento? Se deixei sobre a mesa um pedacinho de mim. Retornei meia hora depois. Sobre a mesa o caderno e a caneta. E abaixo do meu poema estava escrito: "Ah, se eu soubesse antes O amor que tinhas por mim...." Tive a sensação que reconhecia a letra. Comprei uma barrinha de cereal. Que sempre dividíamos juntos. E

“É muito raro encontrar almas livres, mas logo se vê quando são”***

Descobri-me livre, plenamente livre, quando me peguei mirando, da cobertura de um prédio de dezoito andares, a rua movimentada, ao cair da noite. Pensei: “eu poderia pular daqui agora”. Balancei-me para frente e para trás, sorrindo feito criança, como a reafirmar a mim mesma aquela possibilidade. Obviamente eu não queria me matar, nunca tive esse intento. Na verdade, aquele era um momento leve e feliz que preferi dividir com ninguém, por uma questão de egoísmo, talvez. Sequer lembro a razão de tal alegria, mas ela estava presente, radiante, inundando meus poros como uma onda incontrolável. “Eu poderia pular agora.” E subitamente compreendi o que aquilo significava. A verdade é que eu poderia fazer o que quisesse. Veja bem, o Código Penal não traz proibições. Nada traz proibições, na verdade. É permitido matar e roubar. É permitido sonegar impostos, exercer profissão ilegalmente e cometer furtos em mercearias desprotegidas. Dentro de seu pequeno universo e respeitando as pr

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