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Fragmentos filosóficos, delirantes*



"A alquimia também entrega-se frequentemente a essa simples perspectiva dialética do interior e do exterior. Ela se propõe muitas vezes a 'revirar' as substâncias, como se revira uma luva. Se sabes pôr para fora o que está dentro e para dentro o que está fora, diz um alquimista, é um mestre da obra."

"E é aqui que se pode captar a diferença entre as dialéticas da razão que justapõe as contradições para abranger todo o campo do possível e as dialéticas da imaginação que quer apreender todo o real e encontra mais realidade naquilo que se oculta do que naquilo que se mostra."

"A cor negra, diz também Michel Leiris, 'longe de ser a do vazio e do nada, é antes a tinta ativa que faz sobressair a substância profunda e, consequentemente, escura de todas as coisas. (...) O negro alimenta toda cor profunda, é a morada íntima das cores. Assim o sonham os obstinados sonhadores."

"Temos aqui um bom exemplo da necessidade que tinham os alquimistas de multiplicar as metáforas. A realidade, para eles, é uma aparência enganadora."

"(...) quando a imaginação põe em nós a mais atenta das sensibilidades, nos damos conta de que as qualidades representam para nós mais devires do que estados."

"Quando o sonho se apodera assim de nós, temos a impressão de habitar uma imagem."

"(...) a relação entre anima e animus é uma dialética de envolvimento, e não uma dialética de divisão. É neste sentido que o inconsciente, em suas formas mais primitivas, é hermafrodita."

"Nós somos seres profundos. Ocultamo-nos sob superfícies, sob aparências, sob máscaras, mas não somos ocultos apenas para os outros, somos ocultos para nós mesmos. E a profundidade é em nós, no dizer de Jean Wahl, uma transcendência."

"(...) A raiz domina o obstáculo contornando-o. Ela insinua suas verdades; estabiliza o ser por sua multiplicidade."

"No mundo mineral opera o mercúrio, princípio de toda liquidez, princípio que confere à água, sempre um tanto pesada, alguma sutileza. O mercúrio dos filósofos é uma água sábia que dissolve aquilo que a água das fontes não consegue corroer. A vida animal tem também seu líquido nobre: é o sangue, elemento da própria vida, princípio de sua força e de sua duração, lei de uma raça."

"(...) O vinho é realmente um universal que sabe tornar-se singular, quando encontra um filósofo que saiba bebê-lo."

*Gaston Bachelard in "A terra e os devaneios do repouso" Ed. Martins Fontes. SP. 2003

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