Há tempos que não olho
mais para trás, não por querer fugir ou não querer enxergar o que foi vivido,
mas por ter consciência que o amanhã não existe mais. Hoje sou assim, serena,
confiante, amante da vida com todas as suas imperfeições. Talvez essa seja realmente
a beleza da maturidade. Viver o hoje! O agora!
Entretanto, se for
preciso curar alguma ferida ou reavaliar uma atitude que me inquieta, abro uma
licença poética para fitar o passado. Só nesse caso. Não sou muito saudosista,
nem gosto de ficar remoendo o que passou, gosto de abrir o peito para o novo, o
por vir... Tenho a esperança como um leme para meu viver, aliás o que seria
dessa mulher que vos fala se não fosse a esperança?
Sinto o cheiro da noite
fresca da minha cidade natal, o silêncio de poucos carros que passam pela rua
lá fora, o barulho dos meus pensamentos, a maciez do meu anoitecer. Ah!!! Como
gosto da noite.
Secreta. Sincera. Amiga
de sempre, companheira no momento de solidão. Como é bom viver e criar durante
a noite.
A noite é misteriosa e
sempre guarda um amanhã cheio de surpresas, agradáveis ou nem tão agradáveis.
Qual será o próximo desafio que o dia apresentará?
Esse enigma me encanta.
Sinto vontade de
chorar, não de tristeza, e sim de gratidão por estar tão lúcida diante de meus
sentimentos e sensações. Vejo as pessoas ao redor em constante discussão, numa
tentativa voraz de tentar encontrar alguma solução. Como somos crianças no
campo da evolução!!!
A busca é minha paixão
dominante, assim como de inúmeras outras pessoas com singularidades de
intersecção positiva com a minha. Cerco-me de confidentes amigos-irmãos, amores
sinceros e singelos, pessoas que me dirão verdades ou mentiras sinceras para
não ferir meu coração. Construo um mundo particular paralelo ao mundo crise,
violência e injustiças mil. Talvez seja julgada por alienada, contudo, não me
importo mais, quero paz. Talvez os que me julgam assim, não consigam enxergar a
vida como um todo, um uno.
Acredito na vibração da
não-violência, no calar na hora certa, na intuição da minha alma. Eu também
quero um mundo melhor, com direitos e deveres iguais, entretanto eu já entendi
que para contribuir com essa mudança preciso mudar o que não serve mais no meu
mundo particular. Se eu cuidar de mim e de minhas virtudes, regando, refletindo
a cada dia no que posso fazer para me aperfeiçoar, estarei fazendo tudo o que
me cabe e contagiando com minhas atitudes os corredores por onde passar.
Prefiro atos verdadeiros, ainda que desalinhados, buscando amadurecer.
Trabalhar os
sentimentos se tornou minha mais linda obsessão!!! Gosto de perceber o quão
humana sou e estou, na caminhada dessa existência sem destino traçado. O livre
arbítrio nos obriga a escolher nossos caminhos o tempo todo. Sartre não estava
enganado!!! Isso me deixa leve, saber que sou autora da minha história e de
minhas escolhas. Aprendo muito, principalmente com as escolhas desmedidas e
inconsequentes, já me aceito mais. Essa minha condição, igual a de todos os
seres racionais, errantes e caminhantes me seduz mais e mais... E, eu aprendo...
Quebrando a cabeça, por vezes o coração, tropeçando no escuro, como qualquer
irmão.
Erguida aqui estou para
continuar com minhas inúmeras provocações e inquietudes que quase não cabem em
mim. Transbordo-me em palavras, na dança, nas minhas aulas, nas minhas
relações, nas gargalhadas e nas lágrimas teimosas. E, assim, vou descobrindo um
pouco mais dessa, insana doce vida, que se apresenta para essa mulher que
amadurece a cada dia mais... e... mais.
*Vanessa Ribeiro
Filósofa. Atriz.
Dançarina. Filósofa Clínica
Petrópolis/RJ
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