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A palavra horizonte*

                                                 

Talvez sua maior virtude seja retratar o universo de eventos possíveis em cada um. O exercício de seus dons deriva das origens estruturais, da aplicabilidade, do teor discursivo a fundamentar novas vivências. Seu sentido pode ser cura, loucura, alento ou desilusão.

Ao exibir uma estranha aptidão de transformar a pessoa naquilo que menciona, muitas vezes, ultrapassa o dado literal para traduzir-se. Ao dizer exilado de alguma coerência interna pode se desdobrar com a eficácia do agendamento bem colocado. As arquiteturas contraditórias reafirmam os deslizes de toda certeza. Parecem realizar escolhas ao ressoar dos movimentos da interioridade.

Mesmo a competência narrativa não é capaz de aprisionar por inteiro esses desdobramentos da subjetividade no esboço da linguagem. A expressividade de cada pessoa, ao dizer para si mesma, menciona esse outro a se utilizar dela. Ao revezar a concepção de mundo entre o que é e como reaparece em cada olhar, faz acontecer um não-dito nas entrelinhas de seu discurso.

A força da escritura, ao realizar aquilo que descreve, transforma irrealidade em algo palpável, resignifica a utopia nalguma forma objetiva. Os acontecimentos nem sempre são reféns de alguma semiose, no entanto, quando traduzíveis, refletem uma inspiração antiga, a matriz de onde surgem todas as coisas. A plasticidade, a ousadia ou o medo, nos acordos de maior intimidade, compõe um território que pode se expandir, encolher ou permanecer sendo o que é. Nesse sentido, a percepção do fenômeno cotidiano aprecia o esboço da palavra-horizonte.    

Antes ou depois dessa manifestação, aquém ou além das conjecturas, se tem um sujeito portador de múltiplas mensagens. Não um espaço vazio, uma invisibilidade à espera de alguma leitura. No entanto a dúvida se renova: sobre ter o vocabulário a aptidão para desbravar, por inteiro, essa imensa região subjetiva.

O teor desses rascunhos existenciais aprecia um devir criativo, descoberta ou descrição para modificar-se com as narrativas de tudo ao redor. Ao recordar eventos passados, anunciar um mundo novo, mencionar algo desconsiderado, desaloja o silencio para recriar-se nalgum outro jeito de ser. Nessa correspondência se apresenta a magia de uma pronuncia em busca de chão. 

*Hélio Strassburger

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