Era assim...
Seu tempo era demorado. Silenciava e olhava para um
lugar perdido. Quando perguntado dizia:
- Sou assim...
Havia prometido, mil vezes, ser um bom menino. Mas
dentro dele alguma coisa andava na direção oposta. Era da sua natureza ser sem
rumo. Viver e amar sem destino. Um caos interno fazia sua estrela brilhar mais
forte.
O tempo havia lhe ensinado paciência. O que passou,
tinha que passar. O que ficou, ficará até que chegue a sua hora. Afinal, o que
custa viver, e esperar uma vida inteira?
-Sou assim .... - dizia sempre que perguntado.
Trazia uma gentileza no olhar. Coisas que só ele
fazia como fazia.
Pedia desculpas pelo espaço dos outros que ocupava.
Desculpava-se antecipadamente por uma ofensa recebida. Pelo rumo do vento que
batia nele. Pelo raio de sol que impedia de passar.
Agradecia por tudo. Era grato a quem o amava. E aos
amores quando estes partiam , desculpava-se e agradecia.
Quem o conhecia, dizia:
-Deixa ele. Ele é assim mesmo....
Duvidava da Providência. Seu anjo da guarda andava
sempre bêbado. Caía mais do que ele. Seu coração tinha um cupido que não
aprendia a usar o arco e a flecha. Amava e escondia em seu coração.
Tirava um pedacinho de si mesmo para dar a quem não
tinha....
*José Mayer
Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da
Filosofia Clínica
Porto Alegre/RS
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