Existe
uma fonte extraordinária onde a obra de arte decaída se encontra. Nela é
visível o apelo silencioso das raridades. Nalgumas pode se notar a exuberância
dos contornos, em outras a raiz mergulha na terra em busca de proteção. Ainda
àquelas a lançar sementes na brisa passageira.
Quando
muito próximo pode significar conviver com os espinhos uma da outra. Os sinais descrevem
nuances de uma estória onde antes e agora se integram, fazendo a pétala renascer,
se alternando nas estações. Sua essência plural realiza uma poesia sem palavras
nesses espelhos da natureza.
Existem
jardins com uma história de descuidos, maltratados uma vida inteira. Ao
vivenciar alguma forma de atenção, carinho, perseguem o subsolo de si mesmos. Nesse
sentido, desacostumados à luz do sol, num movimento de quase semente, se
refugiam nas sombras conhecidas, cercam-se de muros, paredes de difícil acesso.
O
dom da jardinagem conhece a linguagem ritual de morte e renascimento. Esses
movimentos deixam rastros sem pegadas, reivindicando cuidados, dedicação. Um lugar
onde o jardineiro nascido dos jardins exerce sua poética, numa fluência singular
da mão com a terra, a água, o ar.
Sua
percepção atenta exercita habilidades de aprendiz. O diálogo com os brotos
frágeis, as folhas maltratadas e a raiz tênue, pode significar vida as sementes
desmerecidas. A escolha da matéria-prima aos medicamentos, o afago carinhoso das
manhãs, os tempos e momentos de cada planta, podem florescer a vida nova.
Nessa
estética a céu aberto brotam rosas, dálias, gerânios, ipês, flamboyants, num
solo cultivado pelo encontro do artesão com seu barro. Nesse paraíso onde a
lagarta se faz borboleta, existe uma contraditória harmonia, onde uns completam
os outros.
Ao
semeador da fauna e da flora o pretexto se anuncia em cada broto desconsiderado.
Talvez a queda da folha, flor ou fruto, ao fecundar um pedaço de chão, permita ao
mago da natureza o encanto transformador de sua magia em um belo jardim.
*Hélio Strassburger
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