Recentemente tenho
percebido uma grande insistência de “terapias de marketing” em trabalhar o que
eles chamam de “cartão de visitas pessoal”, ou seja, o conjunto de caracteres
que lhe mostrará de certa maneira para a sociedade. Em Filosofia Clínica trabalho
isso em diversos tópicos e através de complexos movimentos.
O primeiro deles diz
respeito ao Papel Existencial, também conhecido como rótulo, titulação,
designação, máscara ou personagem. Se eu me denomino médico, isto é um
caractere de identificação existencial, identificação de um papel, de um
personagem que se comporta como tal. Esse “médico” deverá ter outros vários
caracteres pré-definidos socialmente, tais como conhecimento acerca do corpo
humano, como postura profissional, ética e etc...
Esse papel, a priori,
deve dizer algo sobre a pessoa com a qual conversamos, pois parte dela é esse
personagem. Porém, um personagem nem sempre possuí correspondência com a pessoa
que o vivifica, e semelhantemente ao teatro, tal personagem pode ser encarnado
e depois deixado, suas fantasias são colocadas para posteriormente o ator delas
se despir. Não se pode ser ator o tempo todo, assim como não se pode ser médico
o tempo todo.
E aqui fica uma dúvida:
o quanto essa fantasia/personagem de fato fala sobre aquela pessoa? Quais as
primazias deste personagem? Seriam aquelas melhor reconhecidas e aceitas pela
sociedade ou aquelas que são intrínsecas a tal papel existencial?
Outra questão que a
Filosofia Clínica levantaria seria o Tópico 1, a própria sociedade. Ou seja, o que
devemos mostrar de nós para o mundo dos homens? Aquilo que mostramos de nós de
fato fala de nós ou apenas fala aquilo que o mundo deseja ouvir para poder em
nós confiar?
Seguindo aqui as
questões, qual deveria ser o veículo utilizado para levar informações sobre mim
aos outros? Seria um simples cartão de visitas impresso em papel? Seria um
livro por mim escrito? Seria um programa de televisão? Será que o marketing faz
de um profissional um profissional melhor? Ou apenas atua sobre a representação
social acerca dele?
Outra questão ainda
mais complexa que precisa ser tratada diz respeito aos processos de
expressividade. O quanto aquilo que se expressa sobre mim chega até outro da
forma como está em mim? E quais as interferências neste processo de comunicação?
Será que aquele que me vê de fato vê aquilo que expresso, ou será que a imagem
da minha pessoa fica deturpada para o outro? Seria isto causado pela forma como
codifico as informações expressas? Seria isso devido aos veículos de expressão
escolhidos? Seria isto consequência do próprio mundo e da sua forma de
significar as coisas? Neste último caso, não seria necessário estudar como as
pessoas significam a mim, ao meu personagem e aos caracteres que expresso
tentando me identificar? Ou será que isto será distinto conforme cada sujeito
ao qual o meu “cartão de visitas” for submetido?
E por último e não
menos importante: o que de fato habita em mim de tudo isso que aparento ser?
Será que há preços a se pagar por tentar parecer ser algo que talvez não se seja?
Será que de fato devo me ocupar daquilo que aparento ser? Ou devo apenas ser
quem sou e deixar com que a minha história conte sobre mim?
Deixo aqui minhas
interrogações, pois para cada sujeito as resposta serão provavelmente
diferentes.
*Gilberto Sendtko
Filósofo Clínico
Chapecó/SC
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