“A vida é uma lousa, em
que o destino, para escrever um novo caso, precisa apagar o caso escrito”. (Machado de Assis. 1994)
Em um contexto clínico,
isto que Machado de Assis nos coloca não passa de um grande chavão. Representa
frases prontas como “para ter um novo amor é necessário esquecer o antigo”. Mas
será que é assim que as coisas se passam? E o contrário também se aplicaria?
Será que para esquecer algo traumático ou doloroso é necessário instaurarmos
algo novo em seu lugar?
A historicidade de
algumas pessoas nos mostra que a sua Estrutura de Pensamento funciona por
fatores substitutivos. Por exemplo, alguns colocam “eu só consegui esquecer o
meu antigo emprego quando eu comecei a trabalhar novamente”. E claro, não é uma
frase isolada, ela aparece em vários contextos, de várias maneiras, e quando
esse “fator substitutivo” fica atestado e é funcional, eis que temos um recurso
clínico para a vida daquela pessoa. Chamamos em Filosofia Clínica estes
recursos de “submodos informais”, são os modos de ser da pessoa que
posteriormente adequamos e aplicamos com fins terapêuticos.
Uma das maiores
falácias terapêuticas é acreditar que procedimentos clínicos são universais e
podem ser utilizados com funcionalidade por qualquer pessoa. Na verdade, para a
maioria das pessoas esse e qualquer outro modo de ser não será funcional e nem
indicado. Algumas pessoas, por exemplo, acabam vivendo com dois vetores, elas
encontram um novo emprego, mas não esquecem o que aconteceu no antigo, ou
encontram um novo amor, mas continuam vivenciando o anterior.
Para algumas pessoas a
forma como irá se instaurar o novo elemento é que irá determinar se ele será
lateral ao antigo, permanecendo os dois, ou se será substituinte dele, fazendo
a pessoa esquecer o anterior. Para algumas basta que um novo elemento se
instaure, de modo a permitir que a intencionalidade do indivíduo para ele se
dirija, para que aconteça a substituição. Já para outras é necessário que a
natureza desses elementos seja semelhante, elas substituem um amor por outro
amor e não por um emprego novo. Já para outras o fator substitutivo se dá via
contrastes. É necessário que o novo seja inverso ao anterior, de modo que a
pessoa vai esquecer-se da raiva instaurando uma paixão, por exemplo.
Os fatores
substitutivos também podem gerar grandes problemáticas. Para certas pessoas,
por exemplo, ele se dá de forma constante, fazendo-a substituir suas vivências
por novas, esquecendo-se do presente de forma muito rápida e instaurando novas
coisas diariamente. Isto, entre outras coisas, faz com que o indivíduo não
tenha uma base sólida e elementos historiológicos fixados, construídos,
lapidados e que possam vir a servir de “porto seguro” em determinados momentos
da existência. Alguns, por exemplo, esquecem-se de coisas importantíssimas para
sua existência, substituindo-as por coisas que somente lhes trarão dor e
sofrimento.
Em todos os aspectos da
vida indica-se sempre cuidado e prudência, lembrando que a existência é
subjetiva e que para cada pessoa deve-se proceder de maneira diferenciada
segundo a sua estruturação interna.
*Gilberto Sendtko
Filósofo Clínico
Chapecó/SC
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