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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Aquilo que choca o filósofo virtuoso, deleita o poeta camaleônico. Não causa dano, por sua complacência, no lado sombrio da coisas, nem por seu gosto, no lado luminoso, já que ambos terminam em especulação"

"Um poeta é o menos poético de tudo o que existe, porque lhe falta identidade; continuamente está indo para - e preenchendo - algum outro corpo"

"(...) é o homem esse animal que quer permanecer, o artista busca permanência transferindo-se para sua obra, fazendo-se sua própria obra, e atinge-a na medida em que se torna obra"

"Se o poeta é sempre 'algum outro', sua poesia tende a ser igualmente 'a partir de outra coisa', a encerrar visões multiformes da realidade na recriação singularíssima da palavra"

"Os poetas se compreendem de poema a poema melhor do que em seus encontros pessoais"

"Com Antonin Artaud calou na França uma palavra dilacerada que só esteve pela metade do lado dos vivos enquanto o resto, partindo de uma linguagem inalcançável, invocava e propunha uma realidade vislumbrada nas insônias de Rodez"

"Viver importa mais do que escrever, a não ser que o escrever seja - como tão poucas vezes - um viver"

"O Surrealismo propõe o reconhecimento da realidade como poética"

"O poeta não é um primitivo, mas, sim, esse homem que reconhece e acata as formas primitivas: formas que, olhando-se bem, seria melhor chamar 'primordiais', anteriores à hegemonia racional, e logo subjacentes ao seu famigerado império"

"(...) no coração do homem que não se conformará jamais - se é poeta - com ser somente um homem. Por isso o poeta se sente crescer em sua obra. Cada poema o enriquece em ser. Cada poema é uma armadilha onde cai um novo fragmento da realidade"

"Os acontecimentos do mundo exterior que intervêm nas pausas da leitura modificam, anulam ou rebatem, em maior ou menor grau, as impressões do livro ... O conto breve, ao contrário, permite ao autor desenvolver plenamente seu propósito..."

*Julio Cortázar in "Valise de Cronópio". Ed. Perspectiva. SP. 2013

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