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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"O estilo é o modo de formar, pessoal, irrepetível, característico; a marca reconhecível que a pessoa deixa de si na obra: e coincide com o modo como a obra é formada. A pessoa forma-se, portanto, na obra: compreender a obra é possuir a pessoa do criador feita objeto físico"

"(...) organiza de um modo cuja característica é precisamente a possibilidade de se apresentar sempre completo sob mil pontos de vista"

"(...) e cada abordagem é um modo de possuir a obra, de a ver inteira e, no entanto, sempre passível de ser percorrida por novos pontos de vista"

"(...) a idade média não é uma ilha histórica, mas uma dimensão do espírito"

"(...) mas ao afirmar que a simplicidade poética, tal como tinha sido entendida até então, parecia estar morta, esclarecia afinal com extremo vigor que a poesia se tinha simplesmente transformado, que estava a despontar uma nova ideia de arte; deixando entender que a arte se situa para além destas transformações históricas e morre continuamente para assumir novas formas"   

"Essa intenção torna-se mais clara em obras de chave simbólica aberta, como podem ser entendidas, por exemplo, as obras de Kafka; enquanto o alegorismo clássico apresentava para cada figura um referente absolutamente preciso, o simbolismo moderno é simbolismo aberto, justamente porque quer ser, antes do mais, comunicação do indefinido ou do ambíguo, do polivalente. O símbolo da literatura e da poesia modernas tende a sugerir um campo de respostas emotivas e conceituais, deixando a determinação do campo à sensibilidade do leitor"

"(...) esta tendência progressiva para a abertura da obra é acompanhada por uma evolução análoga da lógica e das ciências, que substituíram os módulos unívocos pelos módulos plurivalentes. As lógicas polivalentes, a pluralidade das explicações geométricas, a relatividade das medidas espácio-temporais, a própria pesquisa psicofenomenológica das ambiguidades perceptivas como momento positivo do conhecimento, todos estes fenômenos são o fundo clarificador do desejo de obras com várias leituras que substituem, inclusivamente mo campo da comunicação artística, a tendência para a univocidade pela tendência para a´possibilidade, que é típica da cultura contemporânea"

"Quando Miguel Ângelo dizia que a estátua já estava no bloco de mármore, queria simplesmente dizer que fazer a estátua não consistia apenas em dar marteladas na pedra, mas em compreender as possibilidades contidas no material"

*Umberto Eco. A definição de arte. Edições 70. Lisboa. Portugal. 1972.  

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