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Mostrando postagens de fevereiro, 2017

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) que mais poderia convir à Loucura do que ser o arauto do próprio mérito e fazer ecoar por toda parte os seus próprios louvores ? Quem poderá pintar-me com mais fidelidade do que eu mesma ?" "(...) os meus progenitores não eram ligados pelo matrimônio (...) Sou filha do prazer e o amor livre presidiu ao meu nascimento. (...) Nasci nas ilhas Fortunadas, (...) Não se sabe, ali, o que sejam o trabalho, a velhice, as doenças. (...) Nascida no meio de tantas delícias, não saudei a luz com o pranto, como quase todos os homens; mas quando fui parida, comecei a rir gostosamente na cara da minha mãe"  "(...) haverá no mundo coisa mais doce e mais preciosa do que a vida ? E quem, mais do que eu, contribui para a concepção dos mortais ? Nem a lança poderosa de Palas, nem a égide do fulminante Júpiter, nada valem para produzir e propagar o gênero humano" "Sois todos muito sábios, uma vez que, a meu ver, loucura é o mesmo que sabedoria"

Poéticas do indizível*

“(...) Graças às sombras, a região intermediária que separa o homem e o mundo é uma região plena, de uma plenitude de densidade ligeira. Essa região intermediária amortece a dialética do ser e do não-ser.”                        Gaston Bachelard Uma crença muito antiga aprecia atualizar-se desse enigmático hoje que um dia foi amanhã. Poderia ser o pretérito imperfeito de uma busca ou aquele quase nada onde tudo acontece. Atualização de um dialeto nem sempre dizível, a se alimentar nas fontes inenarráveis, nos paradoxos, nas desleituras criativas. Seu visar inédito sugere desvãos ao mundo que se queria definitivo. Costuma ser abrigo do acaso na versão do avesso das coisas. Ao referir o encantamento das pequenas devoções, parece traduzir esse texto interminável, por onde a vida escoa seus segredos. Realiza um esboço sobre as tentativas de decifrar um mundo que é mistério por natureza.      A característica de ser imprevisível seria insuportável, não fora a poesia re_si

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O homem sempre é, além de homem, outra coisa: anjo, demônio, fera, deus, fatalidade, história - algo impuro, alheio, 'outro'" "O artista se debruça sobre a obra e não vê nela senão o seu próprio rosto, que atônito, o contempla. Os heróis modernos são tão ambíguos como a realidade que os sustenta" "Podemos mudar, ser pedras ou astros, se conhecermos a palavra justa que abre as portas da analogia. O homem mágico está em comunicação constante com o universo, faz parte de uma totalidade na qual se reconhece e sobre a qual pode agir" "No herói lutam dois mundos, o sobrenatural e o humano" "O poeta limpa de erros os livros sagrados e escreve inocência onde se lia pecado, liberdade onde estava escrito autoridade, instante onde se gravara eternidade" "O poeta moderno não tem lugar na sociedade porque efetivamente, não é 'ninguém'. Isso não é uma metáfora: a poesia não existe para a burguesia nem pa

Decifra-me ou te apaixono*

Audácia de pensamentos És o turbilhão da tempestade em alto mar. Vento sem direção certa E troveja. E raios cortam os ares. E Marte, o deus da guerra, Vermelho em fogo de dragão. Decifra-me ou te apaixono: É o que me fazes. E montas ciranda de emoções Pulando em meu coração, Quebrando o piso com o risco de dizer adeus. Enxurrada descendo a serra, Teu ser é maior do que eu imaginava para o meu, que não é pouco. *Vânia Dantas Filósofa Clínica Uberlândia/MG

Antes do nome*

Não me importa a palavra, esta corriqueira. Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe, os sítios escuros onde nasce o “de”, o “aliás”, o “o”, o “porém” e o “que”, esta incompreensível muleta que me apoia. Quem entender a linguagem entende Deus cujo Filho é Verbo. Morre quem entender. A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda, foi inventada para ser calada. Em momentos de graça, infrequentíssimos, se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão. Puro susto e terror. *Adélia Prado 

A simplicidade da vida*

Há tantos modismos e "tem quê" ...e a vida passa, e nos amarramos em ilusões e frustrações. Para que? Daqui a pouco seremos cinzas e perderemos a vida com tantas regras inúteis. Julgamos, criticamos e deixamos de compreender e aceitar as pessoas em suas singularidades. Amor e compaixão ficam de lado, logo que a pessoa faz diferente do que pensamos ser certo. Tantos sofrimentos inúteis por apegos e desejos... Vivemos deprimidos apegados ao ontem que já passou... Ansiosos e cheios de medo por um amanhã incerto. O agora que é o único instante de viver se perde e assim a felicidade, que é nossa natureza, se esvai. ... e tudo passa, passarinho... Deixando apegos, modismos, poder, vaidade, orgulho, raiva de lado... A vida acontece. São tantas teorias inúteis a nos escravizar. A vida é simples... As flores nos dão bom dia, o sol nos aquece e as pessoas nos encantam sendo como são. Descomplicando o viver agora se torna a poética encantada

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Quando a mãe do poeta se perguntava onde o poeta fora concebido, apenas três possibilidades eram levadas em consideração: uma noite sobre um banco de praça, uma tarde no apartamento de um pai do poeta, ou uma manhã num lugar romântico dos arredores de Praga" "(...) foi exatamente na primavera, quando os lilases estavam em flor, que ela foi levada para a maternidade; lá, após algumas horas de sofrimento, o jovem poeta deixou-se escorregar de sua carne sobre o lençol manchado do mundo"  "Jaromil sabia muito bem (...) que a originalidade do seu universo interior não era resultado de um esforço laborioso mas sim que se exprimia através de tudo o que passava fortuita e maquinalmente pela sua cabeça; que lhe fora dada, como um dom" "Desde então, acompanhou com muito mais atenção os seus próprios pensamentos e começou a admirá-los. (...) ocorreu-lhe a ideia de que, com a sua morte, o mundo onde vivia deixaria de existir" "(...

Retrato do artista quando coisa*

A maior riqueza do homem é sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. *Manoel de Barros

Sobre o começo de tudo*

Ah, se nós soubéssemos Daquele lugar comum De onde todos viemos Anterior ao Jardim do Éden Antes da explosão inicial Aquela poeira cósmica Útero fecundo da humanidade. Ah, se nós soubéssemos De onde todos viemos Tão singulares e únicos Tão semelhantes entre nós E que o que nos une É bem maior Daquilo que nos pode separar. Deve haver um lugar Uma rachadura na armadura da palavra Um furo quase mudo no silêncio Uma brecha na flecha do tempo. Um tempo, uma linguagem, um silêncio... Bem antes... Ou bem depois... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Milagres*

Ora, quem acha que um milagre é alguma coisa de especial? Por mim, de nada sei que não sejam milagres: ou ande eu pelas ruas de Manhattan, ou erga a vista sobre os telhados na direcção do céu, ou pise com os pés descalços bem na franja das águas pela praia, ou fale durante o dia com uma pessoa a quem amo, ou vá de noite para a cama com uma pessoa a quem                                                                                      /amo, ou à mesa tome assento para jantar com os outros, ou olhe os desconhecidos na carruagem de frente para mim, ou siga as abelhas atarefadas junto à colmeia antes do meio-dia de verão ou animais pastando na campina ou passarinhos ou a maravilha dos insectos no ar, ou a maravilha de um pôr-de-sol ou das estrelas cintilando tão quietas e brilhantes, ou o estranho contorno delicado e leve da lua nova na primavera, essas e outras coisas, uma e todas — para mim são milagres, umas ligadas às outras ainda

Uma metafísica dos refúgios*

“Deram-me um corpo, só um! Para suportar calado, tantas almas desunidas, que esbarram umas nas outras.”                              Murilo Mendes Um íntimo estranhamento chega á superfície na forma de dizer desencontrado. O gesto inseguro, a voz trêmula, a lágrima bailarina, parecem traduzir a indefinição em curso dentro de si. Em nuanças de antigas vivências, a linguagem faz voltar o que parecia esquecido.    Ao descrever invisibilidades seu olhar insinua um caminho às mil mensagens interditas. A contenção física não fora capaz de desarrumar o caos precursor, aliás, amarrar o corpo serviu para liberar a alma. O espanto inicial multiplica os acessos a essa nascente. Através das miragens, franjas e detalhes quase imperceptíveis, se descreve num parágrafo maldito. O movimento especulativo se disfarça de realidade para insinuar segredos. Demonstra-se em trajetos pelos labirintos de si mesmo. Assim uma alma exilada em um corpo refém, transcreve um sonho acordando.

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Ivan Dmitritch sabia muito bem que eles haviam chegado ali para reformar o fogão na cozinha, mas o medo sugeriu-lhe que eram policiais disfarçados de limpa-chaminés" "O Dr. Andréi Iefimitch, (...) receitou compressas frias na testa e gotas de louro e cereja, balançou tristonho a cabeça e saiu, dizendo à senhoria que não voltaria mais, pois não se devia impedir as pessoas de perder o juízo" "(...) centenas de loucos passeiam em liberdade, porque a ignorância de vocês é incapaz de distingui-los dos sãos. Por que então eu e estes infelizes devemos ficar aqui, por todos, como bodes expiatórios ? O senhor, o enfermeiro, o vigia e toda esta canalha de hospital está, no sentido moral, muito abaixo de cada um de nós, por que então nós estamos aqui, e não vocês ? Onde está a lógica ?" "(...) quando, num futuro distante, tiverem terminado sua existência as prisões e os manicômios, não existirão grades nas janelas, nem roupões de internados. Es

Silêncio da letra*

           Cansei dos teus olhos, de tua voz, a duração deste momento, o movimento faz o tempo durar o sempre na imagem. O breviário do solitário é catar os dias, então, do previsível, da atitude dos versos, a métrica é o fluxo do pensamento: e o silêncio fascina. Morrerei em Paris como César Vallejo e Celan. O Sena que lava a textura do tecido, palavras entre as pernas abrem-se às manhãs da cidade. A poesia nasce da algaravia, da alma perdida, morrer em águas turvas. O silêncio abre-se coberto de tardes tristes, um beijo na beleza incessante dos olhos esquecidos dos os amantes  que não se cansam de partir. O silêncio fascina sobre o escrito. *Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gomes Filósofo. Editor. Livre Pensador Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) a percepção é apenas um início de ciência ainda confusa. A relação da percepção com a ciência é a mesma da aparência com a realidade. Nossa dignidade é nos entregarmos à inteligência, que será o único elemento a nos revelar a verdade do mundo" "(...) a física da relatividade confirmar que a objetividade absoluta e definitiva é um sonho ao nos mostrar cada observação rigorosamente dependente da posição do observador, inseparável de sua situação, e ao rejeitar a ideia de um observador absoluto" "Isso em nada diminui a necessidade da pesquisa científica e combate apenas o dogmatismo de uma ciência que se considerasse o saber absoluto e total" "As coisas não são, portanto, simples objetos neutros que contemplaríamos diante de nós; cada uma delas simboliza e evoca para nós uma certa conduta, provoca de nossa parte reações favoráveis ou desfavoráveis, e é por isso que os gostos de um homem, seu caráter, a atitude que assumiu em relaç

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O conteúdo do espírito se revela tão somente na sua manifestação; a forma ideal é reconhecida somente na e pela totalidade dos signos sensoriais dos quais se serve para expressar-se" "(..) o processo da formação da linguagem mostra como, para nós, o caos das impressões imediatas somente passa a se aclarar e articular no momento em que lhe 'damos nome', permeando-o, assim, com a função do pensamento linguístico e da expressão linguística" "Porque cada 'reprodução' do conteúdo já encerra um novo estágio da 'reflexão'" "(...) cada particularidade faz parte de um determinado complexo e expressa em si mesma a regra deste complexo" "A concepção mítica da linguagem, que em toda parte precede a filosófica, caracteriza-se sempre por esta indiferença entre palavra e coisa. Para ela, a essência de cada coisa está contida no seu nome. Efeitos mágicos se vinculam de maneira mediata à palavra e à sua posse&quo

Não entendi. Sinto muito.*

Pessoas que terminam frases com a pergunta “não é?” me intrigam. Sempre quis saber como funciona a mente destas criaturas. Quando Pedro diz que segunda feira é o pior dia da semana, e,  em seguida, me interroga com o detestável “não é?”, na prática, efetivamente está esperando minha confirmação para avançar com a conversação.  Precisa de cumplicidade e aprovação para continuar o raciocínio. Por que a cada duas ou três frases estas pessoas precisam de um apoio, uma base para suas falas? Geralmente não nos dão tempo para responder, mas é assim mesmo que funciona o jogo. Ao falar o "não é", encaram-nos firmemente, constrangendo-nos e, meio que sem jeito, educadamente balançamos afirmativamente a cabeça, piscamos ou baixamos os olhos. Já é o bastante para que concluam que concordamos e prossigam seu falatório. Na verdade, não querem escutar nossa resposta, precisam apenas de um sinal verde para ir em frente com seu discurso.   Se para eles funciona como sinal ver

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O mundo é a minha representação (...) Possui então a inteira certeza de não conhecer nem um sol nem uma terra, mas apenas olhos que vêem este sol, mãos que tocam esta terra; em uma palavra, ele sabe que o mundo que o cerca existe apenas como representação, na sua relação com um ser que percebe, que é o próprio homem" "(...) esta realidade é, portanto, puramente relativa" "O mundo como representação, o único que nos ocupa aqui, apenas existe, falando com exatidão, a partir do dia em que se abrem os primeiros olhos; com efeito, ele só poderia sair do nada em que estava mergulhado por meio do conhecimento" "(...) Foi daí que saiu esse velho erro, de que não há nada de perfeitamente verdadeiro senão aquilo que é provado, e que toda verdade assenta incomprovada, que é o próprio fundamento da prova, ou das provas da prova" "A peculiaridade da filosofia é que ela não pressupõe nada de conhecido, mas que, pelo contrário, tudo l

Caminho do meio*

De um lado a montanha, morada dos deuses. Do outro lado o vale, lagos, riachos e animais. No caminho do meio o homem a trilhar peregrino no existir. Observador aprendiz, passo a passo, experimenta a sacralidade do viver. *Dra Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica. Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Até que ponto não é a minha mão que sente dor, e sim eu na minha mão ?" "A língua é um labirinto de caminhos. Você vem de um lado, e se sente por dentro; você vem de outro lado para o mesmo lugar, e já não se sente mais por dentro" "Não existe um método em filosofia, o que existe são métodos, por assim dizer, diferentes terapias" "Acredita-se estar indo sempre de novo atrás da natureza, e vai-se apenas ao longo da forma pela qual nós a contemplamos" "Uma imagem mantinha-nos prisioneiros. E não podíamos escapar, pois ela residia em nossa linguagem, e esta parecia repeti-la para nós, inexoravelmente" "Pode-se dizer que o conceito 'jogo' é um conceito de contornos imprecisos. - 'Mas um conceito impreciso é, por acaso, um conceito ?' - Uma fotografia desfocada é, por acaso, o retrato de um apessoa ? Bem, pode-se substituir sempre com vantagem um retrato desfocado por um nítido ? Frequentes veze

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