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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"O que desejo enfatizar aqui, logo de início, é que a afirmação de que algumas pessoas têm uma doença chamada esquizofrenia (e de que algumas, presumivelmente, não a têm) baseia-se unicamente na autoridade médica e não em qualquer descoberta da Medicina; de que isso foi, em outras palavras, o resultado de uma tomada de decisão ética e política, e não de um trabalho científico empírico" 

"Como Bleuler tampouco descobriu qualquer doença nova nem desenvolveu qualquer novo tratamento, sua fama assenta, em minha opinião, no fato de ter inventado uma nova doença - e, através dela, uma nova justificativa para se considerar o psiquiatra um médico, o esquizofrênico um paciente e a prisão em que aquele confina este, um hospital"

"(...) ao descrever um paciente esquizofrênico, está descrevendo meramente alguém que fala de modo bizarro ou diferente dele, ou com quem ele, Bleuler, está em desacordo"

"Através dessa transformação pseudocientífica do médico alienista em psiquiatra, a psiquiatria passou a ser - e é hoje aceita em toda a parte - o estudo "científico" do mau comportamento e sua administração "médica". E a esquizofrenia é o seu símbolo sagrado - o maior saco de retalhos de todas as más condutas que os psiquiatras coagidos pela sociedade ou convencidos pelo seu próprio zelo, estão hoje dispostos a diagnosticar, prognosticar e tratar"

"A moderna psiquiatria é uma ideologia poderosa e uma instituição"

"A loucura, conforme sugeri há algum tempo, é fabricada, num certo sentido, por alienistas. Em outras palavras, a Psiquiatria produz a esquizofrenia ou, mais precisamente, os psiquiatras criam esquizofrênicos"

"A esquizofrenia é definida de modo tão vago que, na realidade, trata-se de um termo frequentemente aplicado a quase toda e qualquer espécie de comportamento reprovado pelo locutor (...) a esquizofrenia é um símbolo sagrado da Psiquiatria da mesma forma que o Cristo crucificado é um símbolo sagrado do cristianismo"

"(...) uma suposta doença cerebral só se converte em doença cerebral autêntica quando comprovada por sistematicamente repetíveis; e, terceiro, em que as pessoas com ou sem doenças cerebrais só são "pacientes" na medida em que consentem em assumir esse papel, visto que, como indivíduos numa sociedade livre, elas têm um direito fundamental de rejeitar o diagnóstico médico, a hospitalização e o tratamento" 

*Thomas S. Szasz. Médico. Professor de Psiquiatria da Universidade Estadual de Nova York. in "Esquizofrenia - o símbolo sagrado da Psiquiatria". Ed. Zahar. RJ. 1978.

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