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A palavra horizonte*


"Quando se tem algo em mente, tem-se a si mesmo em mente"
                                 Ludwig Wittgenstein

Talvez sua maior virtude seja retratar o universo de eventos possíveis em cada um. O exercício de seus dons deriva das origens estruturais, da aplicabilidade, do teor discursivo a fundamentar novas vivências. Seu sentido pode ser cura, loucura, alento, desilusão.

Ao exibir uma estranha aptidão de transformar a pessoa naquilo que menciona, muitas vezes, ultrapassa o dado literal para traduzir-se. As arquiteturas contraditórias reafirmam os deslizes de reinvenção. Parecem realizar escolhas ao ressoar os movimentos da subjetividade. 

Mesmo a competência narrativa não é capaz de aprisionar por inteiro esses desdobramentos no esboço da linguagem. A expressividade de cada pessoa menciona uma concepção de mundo, seu devir transita entre o que é e como reaparece em sua ótica.

A força da escritura, ao realizar aquilo que descreve, transforma irrealidade em algo palpável, resignifica a utopia nalguma forma objetiva. Os acontecimentos nem sempre são reféns de alguma semiose, no entanto, quando traduzíveis, refletem uma inspiração antiga, a matriz de onde surgem todas as coisas. A plasticidade, a ousadia ou o medo, nos acordos de maior intimidade, compõe um território que pode se expandir, encolher ou permanecer sendo o que é. Nesse sentido, a percepção do fenômeno cotidiano aprecia o esboço da palavra-horizonte.    

Antes ou depois dessa manifestação, aquém ou além das conjecturas, se tem um sujeito portador de múltiplas mensagens. Não um espaço vazio, uma novidade à espera de alguma leitura. No entanto a dúvida se renova: sobre ter o vocabulário a aptidão para desbravar, por inteiro, essa imensa região subjetiva.

O teor desses rascunhos existenciais aprecia ser ensaio, criação, descrição para modificar-se com as narrativas ao seu redor. Ao recordar eventos de sua historicidade, anuncia um mundo novo chegando. Menciona algo para desalojar outras verdades, recriando uma nova perspectiva existencial. Nessa correspondência se atualiza a magia em busca de novos dias. 

*Hélio Strassburger
Filósofo Clínico e Professor 

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