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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Para Isócrates, para Alcidamas, o lógos também é um ser vivo (zôon) cuja riqueza, vigor, flexibilidade, agilidade são limitados e constrangidos pela rigidez cadavérica do signo escrito"

"Mas antes de ser dominado, subjugado pelo kósmos e pela ordem da verdade, o lógos é um ser vivo selvagem, uma animalidade ambígua. Sua força mágica, 'farmacêutica', deve-se a esta ambivalência, e isso explica que ela seja desproporcionada a esse quase nada que é uma fala"

"O phármakon está compreendido na estrutura do lógos"

"(...) dar nascimento aos outros é uma obrigação que o deus me impõe, procriar é potência da qual me afastou. E lembremo-nos da ambiguidade do phármakon socrático, anxiógeno e tranquilizante: 'Ora, esas dores, minha arte tem a potência de despertá-las ou acalmá-las"

"O esperma, a água, a tinta, a pintura, o tingimento perfumado: o phármakon penetra sempre como o líquido, ele se bebe, se absorve, se introduz no interior que ele marca, primeiramente, com a dureza do tipo, invadindo-o em seguida e inundando-o com seu remédio, sua beberagem, sua bebida, sua poção, seu veneno"

"No líquido, os opostos passam mais facilmente um no outro. O líquido é o elemento do phármakon. E a água, pureza do líquido, se deixa o mais facilmente, o mais perigosamente, penetrar e depois se corromper pelo phármakon, com o qual se mistura e se compõe tão rapidamente" 

"A cura pelo lógos, o exorcismo, a catarse anularão pois o excedente"

"Trata-se da palavra 'pharmakós' (feiticeiro, mágico, envenenador)"

"Desse fundo a dialética extrai seus filosofemas. O phármakon, sem nada ser por si mesmo, os excede sempre como seu fundo sem fundo. Ele se mantém sempre em reserva, ainda que não tenha profundidade fundamental nem última localidade. Nós o veremos prometer-se ao infinito e se escapar sempre por portas secretas, brilhantes como espelho e abertas sobre um labirinto. E também essa reserva de fundo que chamamos a farmácia"

*Jacques Derrida in "A farmácia de Platão". Ed. Iluminuras. SP. 2005.

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