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Mostrando postagens de maio, 2017

As palavras e eu*

Ah, as palavras que eu falava E aquelas que não falava Só eram um convite para a dança Um convite para o canto Ah, minhas palavras Queriam só ser palavras outras De um mundo outro Cansei das palavras cansadas Cansadas de tão reais Ah, minhas vãs palavras Caíram no vazio de um vão De um chão frio. Ah, as minhas palavras Apontavam um mundo que não existe Mas que poderia existir Afinal, quantos mundos existem Além deste único, meio cansado Que fazemos acontecer? Ah, minhas palavras vãs Beijavam os olhinhos dela Última tentativa de tirar as vendas Dos nossos olhos Mas éramos cegos Eu e ela. *José Mayer Filósofo. Livreiro. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"No escritor o pensamento não dirige de fora a linguagem: o escritor é ele mesmo um novo idioma que se constrói, que inventa meios de expressão e se diversifica segundo seu próprio sentido. O que chamamos de poesia talvez seja apenas a parte da literatura onde essa autonomia se afirma com ostentação. Toda grande prosa é também uma recriação do instrumento significante, doravante manejado segundo uma sintaxe nova" "Nossa língua reencontra no fundo das coisas a fala que as fez" "(...) jamais encontramos na fala dos outros senão o que nós mesmos pusemos, a comunicação é uma aparência, ela nada nos ensina de verdadeiramente novo. Como seria ela capaz de nos arrastar para além de nossos próprio poder de pensar, já que os signos que ela nos apresenta nada nos diriam se já não tivéssemos em nosso íntimo sua significação?" "(...) o olhar de minha memória a envolve, bastará que me reinstale no acontecimento para que tudo, os gestos do interloc

Poética do existir*

A gente não precisa dizer o que fez e faz. Cada vez mais viver é o que im-porta de verdade. Im-porta ser sempre aprendiz. Im-porta o carinho amigo. Im-porta o doar amor. Im-porta as coisas simples. Im-porta o agora pleno de histórias. Im-porta abrir a porta da existência E viver as Autogenias transformadoras. Im-portar com o outro que precisa de nossa escuta e presença. Im-portar as estrelas do céu e Pintar os fios de ouro nas estradas do viver. No portar-se como gente In-teira. In-teirando-se com o fogo, o ar a terra e água. Inteirando-se com múltiplas pessoas. Dissolvendo-se na poética do existir. *Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Na era moderna, uma das mais ativas metáforas para o projeto espiritual é a Arte. As atividades do pintor, do músico, do poeta, do bailarino, uma vez reunidas sob essa designação genérica (um gesto relativamente recente), mostraram-se um lugar particularmente propício à representação dos dramas formais que assediam a consciência, tornando-se cada obra de arte individual um paradigma mais ou menos perspicaz para a regulamentação ou a reconciliação de tais contradições" "Embora não seja mais uma confissão, a arte é mais do que nunca uma libertação, um exercício de ascetismo" "A história da arte é uma sucessão de transgressões bem-sucedidas" "O silêncio também existe como uma punição - na loucura exemplar de artistas (Holderlin, Artaud) que demonstram que a própria sanidade pode ser o preço da violação das fronteiras aceitas da consciência e, com certeza, nas penalidades (que vão da censura e da destruição física das obras de arte às mu

A palavra mundo*

Uma poética se anuncia num esboço de captura às múltiplas verdades. Nesse horizonte nem sempre coerente, a pessoa encontra um refúgio para integrar suas possibilidades existenciais.   Ao ser a visão de mundo inseparável de uma subjetividade, o teor dos termos agendados denuncia até onde se pode chegar. Um pouco antes dos movimentos de rebeldia, a linguagem, em vias de se ultrapassar, costuma emitir dissonâncias. Uma dessas características é o excesso de equivocidades discursivas, as quais, nem sempre podem ser traduzidas.   O sentido de ser sem sentido surge como afronta, sedução ou promessa, uma expressão para superar anterioridades. Ainda quando transcende na direção de alguém, em busca de acolhimento e compreensão, o sujeito pode se apresentar, inicialmente, fora de foco.   A palavra mundo exibe uma predisposição à vida, sua existência começa, se desenvolve e se conclui com ela. Sua voz se confunde com o sujeito que a pronuncia. Assim, ao reconhecer nesse

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Um comentário filológico dos textos não produziria nada: só encontramos nos textos aquilo que nós colocamos ali (...)" "É em nós mesmos que encontramos a unidade da fenomenologia e seu verdadeiro sentido" "Trata-se de descrever, não de explicar nem de analisar" "Descartes e sobretudo Kant desligaram o sujeito ou a consciência, fazendo ver que eu não poderia apreender nenhuma coisa como existente se primeiramente eu não me experimentasse existente no ato de apreendê-la" "O filósofo, dizem ainda os inéditos, é alguém que perpetuamente começa" "(...) não é preciso perguntar-se se nós percebemos verdadeiramente um mundo, é preciso dizer, ao contrário: o mundo é aquilo que nós percebemos" "O mundo é não aquilo que eu penso, mas aquilo que eu vivo; eu estou aberto ao mundo, comunico-me indubitavelmente com ele" "Todas as explicações econômicas, psicológicas de uma doutrina

A involução formativa do medievo aos nossos dias*

No tempo das universidades medievais, um jovem iniciava sua vida de estudos aos quatorze anos e um título de doutor em teologia era obtido somente a partir dos trinta e cinco anos. A base inicial dos estudos era o “trivium” – gramática, retórica e dialética – e, em seguida, o “quadrivium” – aritmética, geometria, música e astronomia – e de lá saíram grandes pensadores como Tomás de Aquino, Duns Scot, Alberto Magno, Pedro Abelardo e tantos outros. Hoje se entra cada vez mais cedo nas escolas e universidades, se adquire cada vez mais precocemente os títulos de mestrado e doutorado e o resultado das pesquisas sobre esse “fantástico mundo regido pelo MEC” é o número crescente de analfabetos funcionais, até entre nós universitários. Outro aspecto a ser destacado é que na Idade Média, a formação era para a vida e não havia “pressa” de concluí-la. Mas, hoje, no “auge do desenvolvimento”, no “século XXI”, na era “pós-moderna” etc., ai daquele que não é enviado à escola com,

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Não é a crítica que me quero referir, porque ninguém pode esperar ser compreendido antes que os outros aprendam a língua em que fala. Repontar com isso seria, além de absurdo, indício de um grave desconhecimento da história literária, onde os gênios inovadores foram sempre, quando não tratados como doidos (como Verlaine e Mallarmé), tratados como parvos (como Wordsworth, Keats e Rossetti) ou como, além de parvos, inimigos da pátria, da religião e da moralidade, como aconteceu a Antero de Quental" "(...) Porque não é a teoria que faz o artista, mas o ter nascido artista" "Toda a arte é uma forma de literatura, porque toda a arte é dizer qualquer coisa. Há duas formas de dizer - falar e estar calado. As artes que não são a literatura são as projeções de um silêncio expressivo. Há que procurar em toda a arte que não é a literatura a frase silenciosa que ela contém, ou o poema, ou o romance, ou o drama" "O princípio

O abraço e a felicidade*

Pode ser, claro que sim Você me leu confuso Neste seu jeito de me ler. Seus olhos nublados Me viram no côncavo Ou no convexo me viram. E me leram invertido. Pode ser, claro que sim Este seu medo tremido De um grande amor. Pode ser este seu riso Que me fez de casa E feliz por um dia. Pode ser este desespero Caindo no copo vazio De uma saudade. Pode ser este seu cheiro De fruta madura Dos dias finais de outono. Pode ser a pele infantil De uma neblina suave Pedindo um abraço. *José Mayer Filósofo. Livreiro. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A terra é um paraíso, o único que jamais conheceremos. Temos de entender isso no momento em que abrimos os olhos. Não precisamos fazer dela um paraíso - ela é um paraíso. Só temos de nos capacitar para habitar nele" "O sonhador cujos sonhos não sejam utilitários não tem lugar neste mundo. Quem quer que não se preste a ser comprado e vendido, seja no campo das coisas, das ideias, dos princípios, sonhos ou esperanças, acaba excluído. Neste mundo, o poeta é anátema, o pensador, um tolo, o artista é um escapista, o homem de visão, um criminoso" "(...) Sabem coisas com que o cidadão mediano nem sonha. Poderiam nos contar mil jeitos melhores de lidar com a situação do que os que costumamos usar agora"  "Em certos indivíduos, o fato de estarem isolados do mundo tende a produzir um florescimento forçado; eles irradiam força e magnetismo, sua fala é cintilante e estimulante. Têm uma vida sossegada e rica, toda própria, em harmonia

Cabelos de Baudelaire*

Certas cores, cabelos que esvoaçam no tempo, mistura cheiros e sons, açafrão no tilintar do outono, Tinta que borda a pele, marca a alma, o frio se aproxima. Ilumina partes do corpo, o tom certo, é como a luz, Atravessa fendas, melodias espalham, clarão que dança, Como melodia na luz assombradas de pensamento.   Dedico meu tempo a teus cabelos, a poética imortal, Mesmo que não crês no Nada, a cabeleira brilha, O tempo não apaga os versos, o tempo esquece o presente. Como o barco de Debussy, eleva a dor diante da música, Em perdidas matemática antes do sol do meio-dia, Fios voam mar dentro de luz, fonte da vida, os cabelos em direção à margem, Morre no horizonte o que oculta.   *Prof. Dr.Luis Antonio Paim Gomes  Filósofo. Editor. Livre Pensador Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O que, portanto, deve manter-se impronunciado resguarda-se no não dito, abriga-se no velado como o que não se deixa mostrar, é mistério" "Uma compreensão de mundo assim orientada pode surgir de diferentes fontes porque a força expressiva do espírito é ativa de muitas maneiras" "Apreendida em sua verdadeira essência, a linguagem é algo consistente e, a cada instante, transitória. Mesmo a sua preservação na escrita é sempre uma preservação incompleta, mumificada, mas necessária quando se busca tornar perceptível a vida de seu pronunciamento" "A linguagem é, na verdade, o eterno trabalho do espírito de tornar a articulação sonora capaz de exprimir o pensamento. Rigorosa e imediatamente, esta é a definição da fala em cada situação; sem sentido verdadeiro e essencial, apenas a totalidade dessa fala pode ser considerada como linguagem" "(...) o poder suave da simplicidade de um saber escutar" &q

Um sentido pra viver*

A névoa deste amanhecer Não calou o canto do passarinho Nem escondeu os primeiros raios do sol Há no ar um desassossego coletivo Na dúvida em que acreditar Há, porém, um fio de esperança  Se não, não teria sentido o viver Tudo passa... no vir a ser eterno E as flores brotam e o riacho desenha os caminhos até o mar *Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica. Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Criticar é rasgar novos horizontes de compreensão. Uma crítica enclausurada será fatalmente uma crítica cega, provinciana ou parasitária. O seu entendimento superlativo pressupõe a consciência da sua interdisciplinaridade" "Cada discurso traz consigo a sua lei e o seu horizonte" "A arte é dimensão fundadora do homem. Restará sempre, para além da morte do poema, a dimensão poética da existência" "E em toda operação metodológica há muito mais do que uma operação metodológica. Enganam-se aqueles que, confundindo o método com uma simples técnica mecanizada, não são capazes de perceber na presença condicionada do seu contorno, todo um jogo matizado de representações que com ele estabelece um diálogo criador" "A hermenêutica empreende o percurso inverso da modelização: vive da sua capacidade de abrir-se" "(...) a própria ciência perdeu a tradicional univocidade, passando a estruturar-se por

Opiniões de idiotas cultos e ignorantes*

Embora os conhecimentos humanos sejam fragmentos da totalidade de sua existência, não significa que quem é versado em um conhecimento, possa dar opiniões sobre todo o resto com a mesma convicção. Algumas pessoas reivindicam a especialização em suas áreas devido ao tempo de formação necessário para tal construção de conhecimento para falar sobre seus temas, mas pensam que todos os assuntos que se encontram em “conversas de boteco” possam ser abordadas por todos da mesma maneira. Temas como política e religião são os que mais aparecem nesses pretensos conhecimentos de domínio público. Não se estuda esses fenômenos, porém fala-se como se todos soubessem exatamente o que é.   Além disso, ainda há aqueles que se tornam “especialistas” quando são famosos como atores, youtubers, blogueiros, jornalistas (leitores de tele pronto), músicos, entre outros. Estes são usados com frequência como discurso de autoridade, não pela verdade do que apresentam, mas pela consonância que

Pensar é transgredir*

Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos — para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos.  Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.  Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo.  Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: "Parar pra pensar, nem pensar!"  O problema é que quando menos se

A região singular*

                              A estrutura de pensamento, mesmo quando desmerecida, possui propensões de ação, desenvolvimento. Assim criar, inventar, descobrir versões para decifrar-se no mundo, pode ter um quintal conhecível como ponto de partida. Talvez seja relevante saber mais sobre as estranhezas que vão chegando, seu caráter de anúncio. Uma expressividade realçada no encontro das origens com os desdobramentos do cotidiano, um pouco antes de ser reconhecida, qualifica buscas pelo lugar ponto de partida, de onde as novas palavras pululam a transgredir vocabulários, acrescentando pronúncias, desvendando espaços de aparente invisibilidade. Nessa geografia subjetiva por onde prosperam ensaios, transitam inúmeras vontades ainda sem representação. Um desses lugares onde se antecipa o rumor das ruas.   Nesse chão de imprevisibilidades a pessoa rascunha-se, reaviva interrogações esquecidas, concebe territórios. O processo existencial de cada um, ao escolher seu e

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A subjetividade, de fato, é plural, polifônica, para retomar uma expressão de Mikhail Bakhtine. E ela não conhece nenhuma instância dominante de determinação que guie as outras instâncias segundo uma causalidade unívoca" "(...) é a mutação existencial coletiva que terá a última palavra! Porém os grandes movimentos de subjetivação não tendem necessariamente para um sentido emancipador" "(...) pode-se dizer que a história contemporânea está cada vez mais dominada pelo aumento de reivindicações de singularidade subjetiva" "Universos plásticos insuspeitados" "O melhor é a criação, a invenção de novos Universos de referência; o pior é a mass-midialização embrutecedora, à qual são condenados hoje em dia milhares de indivíduos" "(...) não se trata absolutamente de 'fases', no sentido freudiano, mas de níveis de subjetivação" "O que importa aqui não é unicamente o confronto com uma nova matér

A gleba me transfigura* 

Sinto que sou abelha no seu artesanato. Meus versos tem cheiro de mato, dos bois e dos currais. Eu vivo no terreiro dos sítios e das fazendas primitivas. (...) Minha identificação profunda e amorosa com a terra e com os que nela trabalham. A gleba me transfigura. Dentro da gleba, ouvindo o mugido da vacada, o mééé dos bezerros. O roncar e focinhar dos porcos o cantar dos galos, o cacarejar das poedeiras, o latir do cães, eu me identifico. Sou arvore, sou tronco, sou raiz, sou folha, sou graveto sou mato, sou paiol e sou a velha tulha de barro. (...) pela minha voz cantam todos os pássaros, piam as cobras e coaxam as rãs, mugem todas as boiadas que  vão pelas estradas. Sou espiga e o grão que retornam a terra. Minha pena (esferográfica) é a enxada que vai cavando, é o arado milenário que sulca. Meus versos tem relances de enxada, gume de foice e o peso do machado. Cheiro de currais e gosto de terra. (...) Amo aterr

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