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A região singular*








                            
A estrutura de pensamento, mesmo quando desmerecida, possui propensões de ação, desenvolvimento. Assim criar, inventar, descobrir versões para decifrar-se no mundo, pode ter um quintal conhecível como ponto de partida. Talvez seja relevante saber mais sobre as estranhezas que vão chegando, seu caráter de anúncio.

Uma expressividade realçada no encontro das origens com os desdobramentos do cotidiano, um pouco antes de ser reconhecida, qualifica buscas pelo lugar ponto de partida, de onde as novas palavras pululam a transgredir vocabulários, acrescentando pronúncias, desvendando espaços de aparente invisibilidade. Nessa geografia subjetiva por onde prosperam ensaios, transitam inúmeras vontades ainda sem representação. Um desses lugares onde se antecipa o rumor das ruas.  
Nesse chão de imprevisibilidades a pessoa rascunha-se, reaviva interrogações esquecidas, concebe territórios. O processo existencial de cada um, ao escolher seu endereço preferencial acolhe sons, ruídos, imagens, convivências. Circunscreve termos agendados no intelecto, delimita seus horizontes. 
O ser singular nem sempre é refém desses convívios com a categoria lugar, algumas vezes o que prepondera é a categoria tempo, noutras a categoria interseção... Onde encontrar a chave desses recantos subjetivos? Não é raro a pessoa insurgir-se com essa condição onde se desencontra, sentindo-se desajustada, fora de foco. 
A possibilidade de conversação e aperfeiçoamento da singularidade costuma se associar ao local onde exercita seus dias. Existem ditos de aproximação e ditos de distanciamento. Onde encontrar o dicionário apropriado aos dialetos chegando? Aquilo que surge vagamente pode anunciar seus inéditos. Todo parto necessita de uma gravidez, um esboço da Fênix em prenuncio de renascimentos.
Um mundo de novidades aprecia a insinuação da palavra desconhecida. Um desses refúgios onde o sujeito vivencia suas crises para emancipar fronteiras. Seu percurso pela subjetividade assim estruturada expõe seus limites.   

O que faz de um território uma singularidade, é a integração de seus múltiplos labirintos tópicos. Uma visita nem sempre deliberada aos subúrbios e margens de si mesmo. Algo que, ao não ser compreensível de imediato, possa ser acolhido, admitido num rol de especulações e rascunhos preliminares.  
Essa nascente por onde as palavras articulam suas versões, ao ser uma aproximação entre o sujeito e seus deslocamentos existenciais, desagrega o lugar de conforto, contradiz o mundo conhecido, amplia fronteiras. Acrescenta, descobre, reinventa-se na interseção com o lugar onde acontece existencialmente. 
As falas de primeira vez apreciam desalojar exílios silenciados. Sua libertação acena horizontes pela fresta do olhar. Nesse sentido, as frases imprevisíveis, deslocadas no tempo, espaço, podem ser indício de expansão territorial. Bem assim os gestos desconhecidos, antecipando as novas ideias, pensamentos, atitudes. Um endereço subjetivo onde o sujeito se esboça para ser inédito.  
*Hélio Strassburger

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