“Mas quanto mais me
tornava transparente e leve, mais meus despojos cinzentos ganhavam consistência
para seus sentidos fatigados.”
Pierre Klossowski
Imagino meu corpo além
do meu corpo. Além, um pouco mais distante do que hoje sou. Bem antes, quando
bem pequenino ao lado de minha mamãe. Bem ao lado, sentadinho em um banquinho,
enquanto ela cuidava de minha avó enferma. Estava ali, ainda sem a consciência
real das coisas, nada a perder, e o lado humano de estar à deriva da lógica da
vida.
A vida dos homens não existia. A inocência e a vida, brincava com o Nada:
suprema maneira de ser apreendida pelo pequeno Ser. Uma alegoria do impossível,
desde que, hoje, já não sei o que estava a viver. Construí esse mundo, através
do imaginário de minha mãe, pude ir além do que hoje posso compreender.
Falava sozinho, como um
humano que ainda está a ver o mundo, o poente é mais distante hoje. Minha mãe
cuidava de sua mãe, olhava-me com lágrimas de dor e felicidade.
Essa é uma imagem que
não lembro por mim mesmo, é a recordação de relato que minha mãe volta sempre a
me contar. Já narrou inúmeras vezes, não importa, estou sempre pronto para
ouvi-la novamente. Todos os ângulos, a vida é sempre a mesma, o amor está dentro
e fora dessa narrativa. O amor é infinito, a dor morre logo ali [...] outras
narrativas.
“Dalgum modo outra vez
e todos outra vez no olhar fixo. Todos duma vez como uma vez.” Samuel Beckett
*Prof. Dr. Luis Antonio
Paim Gomes
Filósofo. Editor.
Escritor. Livre Pensador.
Porto Alegre/RS
Comentários
Postar um comentário