“Olha em redor: a
poucos passos dele formou-se uma pequena multidão que está observando seus
movimentos como as convulsões de um demente.”
(Palomar contempla o
céu – Italo Calvino)
Nadar e ser um trem ao
mesmo tempo, deslizar nas águas, cruzar o país como se fosse uma locomotiva, de
braçada em braçada, deslizar águas, trilhos e o coração bater tão rápido
enquanto o vento singra as águas do tempo, da vida. O Tempo para se viver mais
do que tem para continuar a subir em trens do mundo, de poder nadar sem saber o
tempo de parar, sem ter estação para descer, o tempo de morrer é não poder mais
ter o som das águas, o sibilo da locomotiva humana, do sinal no céu da luz que
brilha, da estrela que ilumina a dor dos olhos que envelhecem de tanto ver o
fim que não termina e os braços a continuar, avançar o corpo para o outro lado
do mundo, de fugir da miséria dos homens, de buscar o som inaudito dos trilhos,
do apito de um trem, do barulho do mar, do rio que silencia enquanto se
atravessa a fronteira a nado para contrabandear o vento do outro país, para
viver o tempo dos outros e buscar dentro de si o som das águas que vibram nos
trilhos úmidos da chuva.
*Prof. Dr. Luis Antonio
Paim Gomes
Filósofo. Editor.
Escritor. Livre Pensador.
Porto Alegre/RS
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