Pular para o conteúdo principal

Da natureza inédita em todas as coisas*


“No poetar do poeta, como no pensar do filósofo, de tal sorte se instaura um mundo, que qualquer coisa, seja uma árvore, uma montanha, uma casa, o chilrear de um pássaro, perde toda monotonia e vulgaridade.”
Martin Heidegger

Um cotidiano plural se abre frente ao espelho das singularidades. Nesse viés discursivo recém chegando, oferece seus inéditos numa língua estranha. Por seu caráter de novidade, recusa o gesso da classificação especialista. Numa interseção de acolhimento e partilha, concede alguma visibilidade ao que restaria desconhecido.

Em uma experiência de transbordamento excepcional, num tempo subjetivo e de local indeterminado, a estrutura de pensamento se refaz. Nesse ímpeto de incertezas, um teor de expressividade transgressora se deixa entrevistar, seus deslizes narrativos, olhares desfocados e a escuta das lógicas sem sentido, apontam suas fontes de inspiração.

Uma hermenêutica compreensiva acolhe a desestruturação fundante, seu aspecto de estranheza refere o sujeito acessando algo em vias de tornar-se. Seu aparecimento, num viés discursivo singular, escolhe quando e a quem se mostrar, apresentando-se quase invisível ao espírito de rebanho das unanimidades.

É incrível notar que a cada pessoa compete uma fatia generosa de realidades. Para acessá-las reivindica-se uma distorção às novas frequências existenciais. Embora convivendo em contextos de semelhança e entendimento, o que se destaca é o ângulo inédito recém chegando. Aqui não se trata de ser o primeiro ou o último em qualquer coisa, mas de uma relação insubstituível consigo mesmo.

Ao entrever originalidades descreve-se em novas conformações, emancipa fronteiras, destitui certezas, amplia as definições do indefinido. Uma interrogação assim descrita pode se reinventar numa poética das reticências. Talvez uma intuição sobre a natureza inteira refugiada num sopro de vida.

Nesse anúncio de algo por vir, a essência do “carpe diem” pode acessar a decifração parcial do enigma multiplicando-se. Aqui se cogita sobre uma pátria de exilados, em uma língua estranha, a proteger os inéditos territórios. Vislumbres da eternidade ancorada num aqui-agora, quiçá porta-voz da natureza inédita em todas as coisas.

*Hélio Strassburger

Comentários

Visitas