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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"(...) subentende-se que jogos de palavras, adivinhações, malabarismos verbais constituem, nas tradições arcaicas, um modo de dizer que agrada aos deuses e de que estes fazem grande uso"

"(...) antes de ela ser palavra, denunciando-a já como logos, esse substantivo altamente singular no qual se retém a origem não falante daquilo que incita à fala e que, em seu nível mais alto, ali onde tudo é silêncio, não fala, não esconde, mas faz sinal"

"(...) Abraão separando-se do que é e afirmando-se estrangeiro para responder a uma verdade estrangeira. O hebreu passa de um mundo - o mundo constituído da Suméria - a um 'não ainda mundo', e que é entretanto o terreno; barqueiro, o hebreu Abraão não só nos convida a passar de uma margem a outra, mas também a ser por ele conduzidos aonde quer que haja uma passagem a realizar, mantendo esse entre-duas margens que é a verdade da passagem"

"(...) a palavra é a terra prometida em que o exílio se cumpre em estadia, pois não se trata se estar em casa aí, mas sempre no exterior, num movimento em que o estrangeiro se entrega sem renunciar a si"

"Nietzsche é inesgotável na expressão dessa felicidade de conhecer e de buscar livremente, infinitamente, a todo risco, sem ter o céu como limite e nem tampouco a verdade, a verdade excessivamente humana, como medida. Não se pode lê-lo sem ser arrebatado juntamente com ele pelo puro movimento da busca"

"(...) uma forma tal marca sua recusa a um pensamento (...) esteja ligada à mobilidade da pesquisa, ao pensamento viajante (o de um homem que pensa caminhando e segundo a verdade do caminhar)"

"(...) A fala de fragmento ignora a suficiência, ela é insuficiente"

"(...) o sentido é sempre vário, que há superabundância de significações e que 'Um sempre está equivocado' (...) Leitura de um texto de vários sentidos e não tendo assim outro sentido a não ser 'o processo, o devenir' que é a interpretação (...)"

"(...) Esse outro estranho pluralismo, sem pluralidade nem unidade, que a fala do fragmento leva em si como a provocação da linguagem, aquela que ainda fala quando tudo já foi dito"

*Maurice Blanchot in "A conversa infinita - a experiência limite". Ed. Escuta. SP. 2007.

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