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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Para nós, que hoje encontramos todas as vias livres, que pensamos que tudo está ainda por dizer e por vezes somos tomados de vertigem diante desses espaços vazios que se estendem à nossa frente, nada é mais alheio que as queixas desses homens amarrados, confinados num solo demasiadamente trabalhado, cem vezes revolvido, e que procuram ansiosamente um torrão de terra virgem" 

"Renard escreve em 7 de janeiro de 1889: 'Pôr na abertura do livro: "Não vi tipos, mas indivíduos". O cientista generaliza, o artista individualiza'" 

"(...) o olho prefigura, seleciona aquilo que vê. E esse olho não está dado de saída: ele tem de inventar sua maneira de ver; por isso determina-se a priori e por uma livre escolha o que se vê. As épocas vazias são aquelas que escolhem se ver com olhos já inventados. Elas não podem fazer mais que refinar as descobertas das outras; pois aquele que traz o olho traz ao mesmo tempo a coisa viva"

"Blanchot nos revela o segredo dessa tentativa quando nos explica que o escritor deve falar para não dizer nada. Se as palavras se aniquilam umas às outras, se se desfazem em pó, acaso não surgiria por trás delas uma realidade finalmente silenciosa ?"

"(...) ninguém pode penetrar no universo dos sonhos se não está dormindo; da mesma forma, ninguém pode entrar no mundo fantástico se não se torna fantástico"

"(...) há quatrocentos anos os filósofos e os cientistas vêm se empenhando em quebrar os quadros rígidos do conceito, em consagrar em todos os domínios a proeminência do julgamento livre e criador, em substituir o devir à fixidez das espécies"

"O homem não é em absoluto a soma do que tem, mas a totalidade do que ainda não tem, do que poderia ter"

"Para compreender as palavras, para dar um sentido aos parágrafos, é preciso primeiro que eu adote seu ponto de vista, que eu seja o coro complacente. Essa consciência só existe por meu intermédio; sem mim haveria apenas borrões negros sobre folhas brancas"

*Jean-Paul Sartre in "Situações I - Críticas literárias". Ed. Cosacnaify. SP. 2005.

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