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A invenção da palavra*


“Eu vejo o mundo através de minhas palavras.”
Carlos Nejar

A textura dos dias sugere a conjugação de um andarilho com o devir das quimeras. Ao desler o mundo ao seu redor, sua maldição consiste numa percepção que se refugia na ilegibilidade. À deriva dos consensos, seu viés discursivo aprecia surgir num ponto entre um delírio e outro. Ao derivar ideias complexas de ideias complexas, afronta a sintaxe conhecida.

Um teor assim mencionado, antes de permitir algum deciframento, rascunha-se num dizer impregnado de meias-verdades, subterfúgios, errâncias discursivas. Quando chega a ter definição, já é saber mumificado. Em Filosofia Clínica é comum um acolhimento compreensivo ao ser incomum.

No esboço dessa linguagem que transborda, um dizer busca descrever-se. A referência indireta reverencia a vida em estado nascente. Sua verdade possui rituais de singularidade. Um discurso pessoal em territórios de intimidade. Num devir caótico, sua antevisão desestruturada aponta realidades desconhecidas. Esses inéditos preferem escolher quando, de que forma e a quem se mostrar.

O desenvolvimento do papel existencial cuidador, suas vontades, representações, integram a Filosofia Clínica numa atenção diferenciada ao território sagrado em vias de tornar-se. Uma aptidão para sentir a alma dos relatos, acolher essa fonte de inspiração. A invenção da palavra qualifica a interseção da antítese desconstrutiva com os eventos do renascimento pessoal.

A expressão caricatura ensaia seus delírios criativos em traços de alguma objetividade. Assim reivindica um jeito próprio para dispor suas verdades. Sugere afrontar a premissa de ser no início apenas o verbo. Uma conversação com os rituais de um ser que é não sendo.

*Hélio Strassburger

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