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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Exprimir-se é portanto um empreendimento paradoxal, uma vez que supõe um fundo de expressões aparentadas, já estabelecidas, e que sobre esse fundo a forma empregada se destaque, permaneça suficientemente nova para chamar a atenção. Trata-se de uma operação que tende a sua própria destruição, uma vez que se suprime à medida que se propaga, e se anula se não se propaga. Assim, não se poderia conceber uma expressão que fosse definitiva, pois as próprias virtudes que a tornam geral a tornam ao mesmo tempo insuficiente"

"(...) jamais encontramos na fala dos outros senão o que nós mesmos pusemos, a comunicação é uma aparência, ela nada nos ensina de verdadeiramente novo. Como seria ela capaz de nos arrastar para além de nosso próprio poder de pensar, já que os signos que ela nos apresenta nada nos diriam se já não tivéssemos em nosso íntimo sua significação ?"

"Nossa língua reencontra no fundo das coisas a fala que as fez"

"(...) a linguagem, em todo caso, se assemelha às coisas e às ideias que ela exprime, é o substituto do ser, e não se concebem coisas ou ideias que venham ao mundo sem palavras"

"Na terra, já se fala há muto tempo, e a maior parte do que se diz passa despercebido"

"(...) na leitura, é preciso que num certo momento a intenção do autor me escape, é preciso que ele se retraia; então volto para atrás, retorno impulso, ou então sigo adiante e, mais tarde, uma palavra bem escolhida me fará alcançar, me conduzirá até o centro da nova significação, terei acesso a ela por aquele de seus 'lados' que já faz parte de minha experiência"

"Jamais veríamos uma paisagem nova se não tivéssemos, com nossos olhos, o meio de surpreender, de interrogar e de dar forma a configurações de espaço e de cor jamais vistas até então"

*Maurice Merleau-Ponty in "A prosa do mundo". Ed. Cosac & Naify. SP. 2002. 

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