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Quem é o Filósofo Clínico e quem é o Partilhante na concepção de Hélio Strassburger***


Final:

Em relação aos estudos ficam claras as etapas teóricas e práticas a serem seguidas, como a especialização, o pré-estágio - etapa em que o estudante passeia por dentro de si mesmo, conhecendo-se melhor - e o estágio - quando o aprendiz atende, sob supervisão, seus partilhantes e usa desse momento para compartilhar dúvidas, inseguranças, além de se aprofundar nas leituras e práticas.

Mas, sem fechar a questão o autor nos coloca diante de uma profunda e complexa abordagem: o crescimento pessoal em direção ao ser filósofo clínico. Esta é uma etapa que não está prevista nas estruturas dos cursos de formação, e para ela não existe uma fórmula ou um trajeto pré-determinado a ser seguido. Porém, Strassburger, em outro texto de sua autoria, Ser Filósofo Clínico, 2007, vai mais adiante nessa questão, diz ele:

“Chama atenção um ingrediente, considerado como falha ou defeito por outras abordagens: as carências e fragilidades do terapeuta. No referencial metodológico da Filosofia Clínica, este componente pode ser aliado imprescindível ao ser cuidador! No exercício do papel existencial, este aspecto, quando bem elaborado, vincula-se poderosamente a uma excepcional manifestação de humanidade. Aptidão que anuncia a natureza das interseções e costuma acompanhar a pessoa bem depois da alta compartilhada. Pode significar força e dedicação incomuns a pluralidade do fenômeno humano.”

Strassburger nos apresenta uma versão romântica da humanidade do filósofo clínico e do partilhante enquanto caminhantes em busca de um mesmo fim. Mesmo depois da alta (decidida em conjunto) os dois, filósofo e partilhante, podem estar sempre em contato alicerçando ainda mais os resultados clínicos. E juntamente com Hélio, em Poéticas da Singularidade, podemos ainda sentir a magia do exercício clínico quando:

“colocar-se no lugar do outro, em perspectiva de ajuda, constitui elemento, essencial à natureza dos cuidados. (...) Uma permuta de papéis existenciais, elabora ingredientes imprescindíveis ao existir desses provisórios acordos.” (Strassburger, 2007)

Logo, as concepções de filósofo clínico e partilhante propostas por Strassburger são tão plásticas quanto à própria metodologia da filosofia clínica, e são também definidas  pela qualidade da interseção entre ambos no caminhar do processo terapêutico e no desvelar de cada singularidade em devir.

Considerações finais:

No decorrer deste pequeno trabalho pudemos nos informar de algumas conceituações sobre quem é o filósofo clínico e o partilhante, mais especificamente na concepção Strassburgeriana. Alguns autores, em meu entendimento, simplificam essas conceituações e nos trazem a ideia de filósofo clínico/terapeuta e partilhante/quem partilha suas vivencias com o clínico -, deixando de observar os meandros vivenciados por ambos durante a clínica. Hélio Strassburger vai além da definição da identidade teórica de ambos, adentrando pelas vias da interseção que se estabelecem durante a terapia e o exercício dos papéis existenciais. Mais do que dar definições o autor nos leva a um passeio sobre a construção do Ser terapeuta, que segundo ele nunca chega ao fim.

Um dos pressupostos da filosofia clínica vem do filósofo Protágoras de Abdera (480-410 Ac.), que diz: “O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são.” Logo as conceituações sobre filosofo clínico e partilhante também partem da singularidade de cada autor e cada clínico, que é a medida das coisas, seja em processo terapêutico, seja na construção teórica da filosofia clínica. O que nos chama a atenção em Strassburger é que a sua conceituação, além de obra aberta, vem da prática clínica, ou seja, faz o caminho inverso na construção dos conceitos.

Porém, cabe aqui ressaltar que cada filósofo clínico deve estar ciente de seu estilo clínico, independente de concepções ou conceituações, pois este também é para si, como profissional, a medida de todas as coisas.

*Marta Claus
**Revista Partilhas
 Instituto Mineiro de Filosofia Clínica Ano IV, n. 4, nov. 2017

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