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Gramática da vida Pe. Flávio Sobreiro Poeta, Filósofo Clínico Cambuí/MG No plural da vida sou o singular de minha história nos pontos finais insisto em ser reticências de esperança conjugo o verbo do meu viver no presente dos sonhos escrevo nas linhas da vida com a cor das possibilidades no imperfeito que sou aprendo com erros de tristes interpretações com as vírgulas das experiências separo o que de mim não pertence interrogo a indiferença e exclamo de surpresa diante dos mistérios divinos abro as aspas da alma para citar o amor de outros verbos no sujeito simples que sou me encontro com o composto, o indeterminado e o oculto que ainda busca se encontrar nos parênteses da vida sou a gramática de meus sentimentos
O sonho das palavras* “Quem se entrega com entusiasmo ao pensamento racional pode se desinteressar das fumaças e brumas através das quais os irracionalistas tentam colocar suas dúvidas (...).” Gaston Bachelard Um enredo malabarista se insinua em rasuras de quase traço. O sonhar das palavras rascunha vontades, antecipa delirando aquilo desconsiderado pela razão conhecida. Seus apontamentos dizem mais do que consegue traduzir. Não-ser acontecendo nalgum ponto entre realidade e ficção. Essa sensação do fenômeno ter alguma sobrevida nos termos agendados no intelecto, possui rasgos de transcendência inevitável. Parece reverenciar o lugar instante onde a exceção, o acaso, se desdobram no agora continuado. É possível ao verso irreal conter mensagens ilegíveis. Sua referência ao texto repleto de incompletudes parece querer dizer, ao leitor atento, sobre as alternativas de reescrever-se com sua leitura. Como se fora um rascunho a silenciar sobre a linguagem da natureza da lin
A diferença singular estrangeira e o espaço entre nós e os outros Josy Panão Filosofa Clínica São Paulo/SP (...) A cada peça de roupa e a cada objeto meu que organizava, a sensação era de que, por mais identitárias que essas coisas fossem, eu me despojava de uma zona de conforto, de um lugar onde minha identidade exercia seu legítimo direito de existir. Essa sensação era algo difuso num ambiente onde era grande o impacto de viver um projeto novo e completamente diferente de tudo que já havia vivido antes. E por isso mesmo, perceber o que acontecia por dentro só podia realmente se dar num outro momento: num momento em que a conexão com essa nova experiência que se abria para mim encontrasse um plano de fundo totalmente diferente. Partia levando minhas malas e todas as minhas expectativas. Seguia rumo ao desconhecido, ao encontro como o outro; partia com o corpo todo preenchido por uma sensação inexplicável: uma sensação intensa, frágil, delicada, desnorteante, vital. Viver
Desejos Patrícia Rossi Advogada, Gestora em RH, Filosofa Clínica Juiz de Fora/MG Hoje eu resolvi “não fazer nada”, que no final acabou sendo um “fazer tudo”. Um tudo diferente… uma faxina… faxina da alma. É tempo de catarse, momentos de reflexão, solidão, pensamentos, desejos, pedidos… amanhã será outro ano. Meu ano de verdade só começa depois que faço aniversário. Meu calendário é diferente, é só meu. Vai de acordo com meu nascimento. Começa e termina comigo. E é comigo que preciso conversar e trocar figurinhas hoje. Falar com a pessoa que encontro desde a hora que acordo até a hora, o minuto e o segundo que vou dormir. Essa pessoa que vejo todos os dias no espelho e que se mostra com mil facetas pra mim: tem dias que está bonita, maquiada, arrumada, e tem dias que está horrível, de cabelo em pé, olheiras, toca no cabelo ou com um pijama que só o espelho e a cama conhecem. Pessoa mais íntima pra mim impossível. E apesar de toda convivência ainda continua sendo um misté
O que permanece quando muda? Miguel Angelo Caruzo Filósofo Clínico Juiz de Fora/MG Gosto de algumas afirmações heraclitianas, sobretudo a ideia de movimento. Plutarco (46 a 126 d. C) apontando concepção de Heráclito (535 a 475 a. C.) diz: “Em rio não se pode entrar duas vezes no mesmo, segundo Heráclito, nem substância mortal tocar duas vezes na mesma condição; mas pela intensidade e rapidez da mudança dispersa e de novo reúne (ou melhor, nem mesmo de novo nem depois, mas ao mesmo tempo) compõe-se e desiste, aproxima-se e afasta-se” (Plutarco, Coroliano, 18 p. 392 B.). A proposta de mudança pensada por esse pré-socrático pude vivenciá-la ao longo do que a vida me concedeu experimentar até agora. Eu mudei, a realidade à minha volta mudou, as pessoas mudaram. E talvez uma das mudanças mais claras e necessárias que experimentei foi a aproximação de algumas pessoas e o afastamento de outras. Aprendi que na medida em que mudamos, não mudamos o modo de ser das pessoas ao nosso r
Sobre a Lua Luana Tavares Filosofa Clínica Niterói/RJ A Lua sempre me encantou, mas não por algo em especial e sim por puro fascínio. Na verdade, não saberia explicar exatamente o porquê, talvez simplesmente a entenda como se fosse um espelho da própria singularidade humana. A Lua é inteira, é metade, se oculta e transparece no seu próprio tempo, mas também reflete, provoca, inspira, desvanece. Seu movimento preenche expectativas, controla colheitas, determina processos e desperta poesias... sem justificar ou se explicar, apenas concentrando a vida em suas fases e não se importando com as distâncias e as temporalidades. Desde que seu brilho não seja ofuscado pelo vácuo insondável da simplória existência, ela se manifesta a quem puder senti-la e apreciá-la. Também partilha momentos de intimidade e introspecção, assim como aqueles de euforia e perdição. Já presenciou dores e alegrias, discursos vãos e profundas falas de rua. Das sombras à plenitude, cumpriu seu destino de ma
Fragmentos filosóficos delirantes XCI* "As letras que compõem uma palavra, embora sendo cada uma racionalmente insignificante, buscam em nosso espírito, incessantemente, sua liberdade, a liberdade de significar outra coisa." "Dionísio é um deus complexo, dialético; é ao mesmo tempo um deus infernal e da renovação; é o próprio deus desta contradição." "É necessário lembrar que a classificação das vozes humanas - como toda classificação elaborada por uma sociedade - nunca é inocente." "(...) constato, mais uma vez, como é difícil falar daquilo que se ama." "O estatuto do canto romântico é, por natureza, incerto (...) como arte extrema, se exprime através de um ser singular, intempestivo, marginal, louco se, em um último gesto de elegância, não recusasse a máscara gloriosa da loucura." "A voz humana é, na verdade, o espaço privilegiado (eidético) da diferença: espaço que escapa a todas as ciências, pois nenhuma ciência (f
RETIRANTE DE SI* Vânia Dantas Filosofa Clínica Uberlândia/MG Vou-me embora[1] pro meu exílio[2]. A exilada procura semelhanças e não se encontra. Mora no escritório, trabalha no quarto. Às vezes procura a sorte como Macabéa[3] e teme seu fim, como acontece ao consultor de cartomante[4]. Mas seu futuro estava ali, está acontecendo tudo como foi visto. E digo mais, como foi escrito. Especializou-se em compor mitos sobre os quais funda sua esquizo-análise[5]; escreve antes o que vai viver. Conhece o personagem de Jack Nicholson[6], nega que também tenha uma coleção de rituais para se sentir melhor e... por favor, pare de escrever e viva – mas está assim na vida, perdida! Da percepção de Lya[7], destaco a solidão na praia. O cinza presente em tudo, como nas nuvens deste final de ano; tudo se decompõe porque ela assim se faz. Vê a dor dos outros porque também sente uma – várias: da infância, da falta, da adolescência, da idade adulta, da madureza, da velhice. Não termina feliz, m

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