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Vem*

Vem Traz tuas dores Teu medo Meu abandono Vem Com todos os teus delírios Hipopótamos rosa Cristais baratos Vem Com todos os teus vícios Deita em mim teu desespero Tua cisma Vem *Mariah de Olivieri Filósofa, artista plástica, poetisa, estudante de filosofia clínica Porto Alegre/RS

Re-amar*

Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim.  Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também.  Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma.  Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também!  Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade!  Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse bar

Guardar*

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro Do que um pássaro sem vôos. Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema: Para guardá-lo: Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda: Guarde o que quer que guarda um poema: Por isso o lance do poema: Por guardar-se o que se quer guardar. * Antonio Cicero

Nós somos Donos do nosso Corpo?*

Querido leitor, que você esteja bem. A sagrada escritura nos diz que o corpo é a morada do Espírito Santo e, por isso, é sagrado, não pode ser maculado. Para algumas pessoas é isso mesmo: o corpo é sagrado, é o lar da alma. Já para outros, nem tanto.  Drogam-se, não se exercitam, definham a cada dia sem dar uma chance para o dito desejado equilíbrio entre mente, corpo e espírito como pregam alguns sábios. Nunca é demais lembrar que para cada um é de um jeito. De chofre me vem a mente Tita Fernandes, um colega de infância que fazia parte do Catarinense, nosso time de futebol do Rio Maina. Em um jogo ele foi literalmente massacrado no campo, recebendo bordoadas, chutes e até socos. Saiu abraçado com seus opositores dizendo que futebol é isso mesmo. A surpresa, para mim, foi que ele só ficou possesso quando um dos seus colegas colocou o pé no estribo do seu fusca ano 1963, totalmente recuperado, que reluzia ao sol. Causar lesões em seu corpo até vai, mas des

O doido da garrafa *

Ele não era mais doido do que as outras pessoas do mundo, mas as outras pessoas do mundo insistiam em dizer que ele era doido. Depois que se apaixonou por uma garrafa de plástico de se carregar na bicicleta e passou a andar sempre com ela pendurada na cintura, virou o Doido da Garrafa. O Doido da Garrafa fazia passarinhos de papel como ninguém, mas era especialista mesmo em construir barquinhos com palitos. Batizava cada barco com um nome de mulher e, enquanto estava trabalhando nele, morria de amores pela dona imaginária do nome. Depois ia esquecendo uma por uma, todas elas, com exceção de Olívia, uma nau antiga que levou dezessete dias para ser construída. Batucava muito bem e vivia inventando, de improviso, músicas especialmente compostas para toda e qualquer finalidade, nos mais variados gêneros. Uai aí aquela da mulher de blusa verde atravessando a rua apressada, e o Doido da Garrafa imediatamente compunha um samba, uma valsa, um rock, um rap, um blues, dependendo

Escritura sub_versão*

  A escritura aparece como um fenômeno incapaz de aprisionamento. Seu estorvo fundamental consiste na contradição ao discurso socialmente bem ajustado. Seu afã de ser um processo criativo recheado de novas imagens, mensagens, desvãos, aprecia desconstruir caminhos de pretensão definitiva. A partir de si mesma saltam novos estilos, idioletos, estéticas no deslize da epistemologia. Seu não-ser reinventa um mundo de possibilidades no esboço estranhamento às novas verdades.   O discurso alienado é ensinado desde cedo nas escolas da infância existencial. A expressividade que anunciaria o sujeito singular costuma ser diagnosticada como distúrbio, contravenção, ilegalidade. Os desvios assim descritos são tratados a golpes de farmácia, propõe reconduzir aquele ao lugar de onde tentou se emancipar. A sub_versão dos códigos reconhecidos aprecia se iniciar na polissemia de um dia qualquer. Seu viés simbólico convida a vislumbrar e refletir sobre as tentativas de mordaça a obr

Reflexões/ Filosofia Clínica*

Sutilmente, no soturno da noite me pego em pensamentos, quando me vem em mente a considerada reflexão de como a Filosofia pode oferecer meios para clarear aos olhos do tal mundo e de como lidar com "problemas" e também a delicadeza de levar indivíduos a caminharem do ócio para o refletir mais acentuado levando-os a viver em direção ao norte ! Na prática da Filosofia Clínica, não poderia ser diferente, pois um olhar carinhoso, um abraço aconchegante, um sorriso como expressão de vontade e prazer, levará um conforto preciso ao partilhante que deixará de sentir o "problema central " e soltará um suspiro conspirador mútuo ... E o momento da busca que era o progressivo bem estar vem a tona, sem análise de sintomas rotulados, mas sim o sentido íntegro do movimento que o levou a procurar ajuda para então dividir seu sofrer. Então, realizar esse propósito enternecedor, suavemente o terapeuta vislumbrará no olhar do partilhante menos desconforto para poder e

Navegar é preciso*

Navegar é preciso e inevitável demais. E sendo assim, talvez possa significar que sempre estaremos nos movimentando, indo e vindo, mesmo que possamos teimar ou temer ao escolher desperceber ao invés de ousar perceber cada vez mais.  E o problema pode não ser essa dinâmica, mas sim, o esquecimento do nosso lugar. Pode ser fato que a morada esteja sempre às margens da orla do nosso vasto agora. E basicamente existimos sempre vivendo e convivendo – navegando – em três continentes incríveis e necessários uns aos outros numa relação triangular de vai e vem.  Um continente se chama Passado e é riquíssimo em nostalgia e possibilidades mil para qualificarmos ainda mais o presente através das nossas memórias sempre em construção no ritmo de uma plasticidade magnífica. Outro continente é o Agora, o único no qual a nossa morada concretamente se encontra presente e pulsante para os fazeres de mãos dadas ou a quatro mãos.  Há ainda, o Futuro, um continente plenamente instável e tod

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