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Toda a vida num único momento*

Pensar que a felicidade está onde não estamos é dar asas ao inatingível; se há momentos em que rimos e nos sentimos plenos, por que não admitir que a felicidade é possível?   Por que essa busca incessante do ad aeternum, se este tempo não foi feito para nós, humanos, e sim para os deuses?   Se é tão difícil ser feliz e se é tão bom sê-lo, por que não fingir pelo menos um sorriso.   Fingir?   Fingir seria certamente uma máscara e esta não condiz com a vivência plena que precisamos ter das coisas. Ser feliz deve ser um peito aberto, desarmado ante o medo da incongruência ou do inesperado, colocar-se frente à vida sem temer que um soco por trás pegue-nos as costas.  Deve-se confiar e rir, achando que o momento seguinte será melhor ainda. Utopia?  Que importam denominações, suposições, possibilidades.... ser feliz deve ser tão bom quanto caminhar na chuva e não se molhar; deve ser tão bom quanto abraçar um amigo, sentindo-o apenas como tal e, às vezes, sentindo no entrelaçar d

Saber não é poder**

A contemporaneidade se caracteriza pelo volumoso número de métodos de crescimento pessoal. Tanto os métodos psicológicos como o cognitivo-comportamental (TCC), quanto a programação neurolinguística (PNL) ou até livros de autoajuda (AJ), nos “empurram” meios de superar dificuldades, hábitos ou qualquer outro tipo de “problema” em nossas vidas. Mas, quais os limites dessas abordagens? A Filosofia Clínica (FC), uma abordagem terapêutica, traz consigo diversos ganhos. O primeiro deles está no fato de reconhecer que não é a principal, única ou última das possibilidades de viabilização do bem estar de uma pessoa (seja lá o que podemos entender por “bem-estar”). Assim, a FC nos ensina que a religião, os livros, os amigos, as abordagens psicológicas e psicanalíticas, as escolas e tantos outros meios, podem contribuir para determinados fins almejados por uma pessoa. Diante das possibilidades elencadas acima, é importante ressaltar que a diversidade se dá pela singularidade

Personagem*

Teu nome é quase indiferente e nem teu rosto mais me inquieta. A arte de amar é exatamente a de se ser poeta. Para pensar em ti, me basta o próprio amor que por ti sinto: és a ideia, serena e casta, nutrida do enigma do instinto. O lugar da tua presença é um deserto, entre variedades: mas nesse deserto é que pensa o olhar de todas as saudades. Meus sonhos viajam rumos tristes e, no seu profundo universo, tu, sem forma e sem nome, existes, silêncio, obscuro, disperso. Teu corpo, e teu rosto, e teu nome, teu coração, tua existência, tudo - o espaço evita e consome: e eu só conheço a tua ausência. Eu só conheço o que não vejo. E, nesse abismo do meu sonho, alheia a todo outro desejo, me decomponho e recomponho. *Cecília Meireles

Intimidade*

                                               No dia do lançamento do livro, estava preocupado. Parecia até que o autor era eu. Nunca havia comparecido a uma sessão de autógrafos restrita a pouquíssimos convidados. Imaginava uma sala quase vazia onde o autor, depois dos trinta minutos iniciais de movimentação de pessoas, restaria isolado, apoiado em uma mesa, torcendo para que mais alguém entrasse na livraria. Depois de mais uns trinta minutos de espera e solidão disfarçada, encerraria a sessão com a sensação de vazio. Não gostaria que isto acontecesse contigo e gastei várias horas pensando estratégias de preencher física e emocionalmente a livraria. A idéia de fazer o lançamento em um local pequeno, íntimo, numa cidadezinha no interior de Minas Gerais havia sido tua. Eu era apenas um convidado. Achei que não deveria questionar, afinal de contas, você é uma escritora experiente e eu, apenas um aprendiz. Também fiquei com receio de te contaminar com meus fantasmas. Apesar dist

Não és os Outros*

Não há-de te salvar o que deixaram Escrito aqueles que o teu medo implora; Não és os outros e encontras-te agora No meio do labirinto que tramaram Teus passos. Não te salva a agonia De Jesus ou de Sócrates ou o forte Siddharta de ouro que aceitou a morte Naquele jardim, ao declinar o dia. Também é pó cada palavra escrita Por tua mão ou o verbo pronunciado Pela boca. Não há pena no Fado E a noite de Deus é infinita. Tua matéria é o tempo, o incessante Tempo. E és cada solitário instante. *Jorge Luis Borges

Transitório*

Em alguns anos de terapia comecei a perceber que algumas pessoas são afligidas por um pequeno problema: a passagem das coisas. Uso a palavra coisas porque tudo o que está ao redor destas pessoas não pára, não permanece exatamente como está, inclusive elas mesmas. Este pequeno problema começa a aparecer quando estas pessoas começam a pensar em sua vida como uma linha do tempo, deixam de olhar a vida como experiências isoladas e passam a perceber o contínuo.  Ao perceber a transitoriedade descobrem que estão sujeitas também às mudanças e em cada caso existem mudanças que assustam mais. Para algumas pessoas o que as assusta é a possibilidade que a passagem do tempo possa levar as pessoas que elas amam, pai, mãe, irmão, marido, filhos, etc. Outras pessoas têm medo de perder sua aparência física , são devotos do próprio corpo, passam horas ao dia cultivando a beleza que temem perder. Um último exemplo são as pessoas que veem na passagem do tempo o problema de te

Os Nossos Eus*

Esses eus de que somos feitos, sobrepostos como pratos empilhados nas mãos de um empregado de mesa, têm outros vínculos, outras simpatias, pequenas constituições e direitos próprios - chamem-lhes o que quiserem (e muitas destas coisas nem sequer têm nome) - de modo que um deles só comparece se chover, outro só numa sala de cortinados verdes, outro se Mrs. Jones não estiver presente, outro ainda se lhe prometer um copo de vinho - e assim por diante; pois cada indivíduo poderá multiplicar, a partir da sua experiência pessoal, os diversos compromissos que os seus diversos eus estabelecerem consigo - e alguns são demasiado absurdos e ridículos para figurarem numa obra impressa. *Virginia Woolf

Escrevendo poesia*

De todo, não: não é difícil escrever poesia – é impossível. De contrário, pensas que teria persistido nisto por mais de 40 anos? Tenta, tenta só pôr asas numa pedra, tenta seguir o rasto de um pássaro no ar. *Hans Borli

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