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Como identificar alguém especial*

Nem todas as pessoas que cruzam por nossas vidas são iguais. Algumas vão se tornar muito importantes; outras vão passar e não deixarão nada, nem lembrança. Mas, de vez em quando, surge alguém com uma britadeira na mão, fura um buraco bem fundo em nossa frente, finca uma bandeira e mostra que veio pra ficar. Traz uma mala grande e pesada cheia de espontaneidade, paz, poesia, humor, amizade, companheirismo, amor e  se instala definitivamente em nossas vidas. Essas pessoas são especiais e difíceis de encontrar. Como identificá-las? Chegam de mansinho, por casualidade, sem aviso, sem cartão de visita, sem intenção ou obrigatoriedade de agradar. Não usam máscaras ou carapuças. Não são perfeitos e não fazem o menor esforço para se tornarem especiais, simplesmente são. Atrasam-se, dormem assistindo filmes, detestam ar condicionado, deixam queimar o risoto de limão siciliano, tem um dedo meio torto, mas são pessoas por quem vale a pena relevar os defeitos. Tornam nossos dias m

Uma certa arte*

A arte da perda é fácil de estudar: a perda, a tantas coisas, é latente que perdê-las nem chega a ser azar. Perde algo a cada dia. Deixa estar: percam-se a chave, o tempo inutilmente. A arte da perda é fácil de abarcar. Perde-se mais e melhor. Nome ou lugar, destino que talvez tinhas em mente para a viagem. Nem isto é mesmo azar. Perdi o relógio de mamãe. E um lar dos três que tive, o (quase) mais recente. A arte da perda é fácil de apurar. Duas cidades lindas. Mais: um par de rios, uns reinos meus, um continente. Perdi-os, mas não foi um grande azar. Mesmo perder-te (a voz jocosa, um ar que eu amo), isso tampouco me desmente. A arte da perda é fácil, apesar de parecer (Anota!) um grande azar. * Elizabeth Bishop

Sobre a Escrita*

Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio. Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma ideia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento. Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo – é por esconderem outras palavras. Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa pa

Caminhos*

O que é um caminho? Hoje quando ia trabalhar, me dei conta de que saí de casa, cheguei no local de trabalho e sequer pensei no que estava fazendo. Desde que sai pelo portão até o momento em que parei em frente à escola vinha pensando a respeito da vida. O caminho que percorri com meu corpo não foi o mesmo que percorri com minha mente. Provavelmente muitos de nós já fizemos isto. Mas, o que mais chamou atenção foi perceber que assim como meu corpo percorre automaticamente uma série de caminhos diariamente, o meu pensamento também percorre. A partir disso lembrei de uma série de informações sobre caminho. Uma delas, bastante antiga, é de um amigo que diz que numa longa caminhada, quando se está sozinho, o maior desafio é conviver consigo mesmo. Que interessante, quando ele diz da convivência consigo mesmo, ele está falando de que? Não sei, dentro de algumas milhares de possibilidades podemos dizer que seria conviver com seu pensamento. Por mais que tenhamos dificuldades de convivê

Reflexão Número 1*

Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio Nem ama duas vezes a mesma mulher. Deus de onde tudo deriva E a circulação e o movimento infinito. Ainda não estamos habituados com o mundo Nascer é muito comprido. *Murilo Mendes

Poetando*

Entre Machado de Assis E Carlos Drummond de Andrade Sou beira mar a navegar Na fresta do entardecer Sou por instante silêncio A poesia fixa no horizonte Meu sentir para além Na fusão brota inspiração Que faz minha alma vibrar Fecho os livros Sinto na brisa os vultos Dos mestres literatos Até a noite trazer as estrelas Para eu poder poetar! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Poeta, Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Cântico VI*

Tu tens um medo: Acabar. Não vês que acabas todo o dia. Que morres no amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que te renovas todo o dia. No amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que és sempre outro. Que és sempre o mesmo. Que morrerás por idades imensas. Até não teres medo de morrer. E então serás eterno. * Cecília Meireles

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