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O livro sobre nada*

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez. Tudo que não invento é falso. Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira. Tem mais presença em mim o que me falta. Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário. Sou muito preparado de conflitos. Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou. O meu amanhecer vai ser de noite. Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção. O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo. Meu avesso é mais visível do que um poste. Sábio é o que adivinha. Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições. A inércia é meu ato principal. Não saio de dentro de mim nem pra pescar. Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore. Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma. Peixe não tem honras nem horizontes. Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando nã

Um Banquinho...*

Durante a Feira do Livro vem, de repente, aquela necessidade de escrever. Ou de reescrever o que já foi.... Lembro-me. Sentávamos no banquinho da praça. Um em cada cantinho. Quase de costas um para o outro. Habitava-nos a ingenuidade. A inocência fazia os corações se darem as mãos. Assim era o primeiro amor... O primeiro amor é muitas vezes aquele que não aconteceu. Ao mesmo tempo é aquele que, de maneira nenhuma, não deveria não ter acontecido.Mas não aconteceu, é fato. E por isso continua. Continua pela sua ausência. O primeiro amor é o da eternidade. Este primeiro é o amor que não deveria ter declinado, Mas ele se perdeu por aí. Se perdeu ficando. Esqueceu-se de si e curou-se, momentaneamente. E agora...? Vive-se a ilusão de que não é mais o mesmo amor. Não faria mais o que teria feito outrora. Ou será que faria melhor? Aquele primeiro amor não teria conhecido limites, perigos ou vergonhas. Se precipitaria em penhascos. Subiria ao cume das mais altas mont

O guardador de rebanhos*

Eu nunca guardei rebanhos, Mas é como se os guardasse. Minha alma é como um pastor, Conhece o vento e o sol E anda pela mão das Estações A seguir e a olhar. Toda a paz da Natureza sem gente Vem sentar-se a meu lado. Mas eu fico triste como um pôr de sol Para a nossa imaginação, Quando esfria no fundo da planície E se sente a noite entrada Como uma borboleta pela janela. Mas a minha tristeza é sossego Porque é natural e justa E é o que deve estar na alma Quando já pensa que existe E as mãos colhem flores sem ela dar por isso. Como um ruído de chocalhos Para além da curva da estrada, Os meus pensamentos são contentes. Só tenho pena de saber que eles são contentes, Porque, se o não soubesse, Em vez de serem contentes e tristes, Seriam alegres e contentes. Pensar incomoda como andar à chuva Quando o vento cresce e parece que chove mais. Não tenho ambições nem desejos Ser poeta não é uma ambição minha É a minha maneira d

Expressividades*

Versos e prosas exprimem a vida por caminhos de métricas e contornos incertos demais, forjados em palavras capazes de acompanhar as curvas do pulso e do impulso provocados pelo contato de corpos, de almas e de entes sublimes da natureza. E cada momento sentido é parcela da vida que é um milagre sempre agora convidando-nos a transcender através de um começo que reside na coragem de sentir, viver e mudar o que for preciso. Porventura, somos autênticos espelhos do modo como merecemos ser tratados, pois isso será sempre reflexo do modo como tratamos cada pessoa com a qual mantemos contato. Na nossa capacidade de permitir, tolerar, persistir e libertar habita a esperança e a concretude de que tudo dará certo bastando seguir em frente. E tudo fica melhor, certamente, quando conseguimos escolher diante da multidão, um rosto que na verdade é uma flor que toda vez que sorri, desabrocha fazendo um novo poema surgir no horizonte. E é esse sorriso dela que vai tornando cada dia mais bonito nu

Retrato do artista quando coisa*

A maior riqueza do homem é sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. *Manoel de Barros

63 anos*

nasci velha a cada ano fui me tornado menina sapeca, levada, rebelde para quem não poderia nascer cada dia é um milagre eterna aprendiz vou tecendo, pintando, poetizando, brincando, celebrando angustiadamente feliz duvidando, questionando, amando encontrando gente compartilhando afetos administrando sentimentos a razão sensível vivenciando agradecida sempre aberta a experiência estou! redonda, rolo os fios dos brancos cabelos risco as rugas dos risos e dores sou! muitas e muitos com pés nos chão e flecha nas mãos também não sou! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Filósofa Clínica, Escritora, Poetisa Juiz de Fora/MG
Comunicado Oficial: A Casa da Filosofia Clínica, fora do RS, coordena há 19 anos, sob a liderança de Hélio Strassburger, profs. adjuntos e convidados, vários pólos da Formação em Filosofia Clínica no país. Já são milhares de profissionais formados em todo o território nacional. Recentemente, tivemos denúncias de que pessoas estranhas ao nosso meio, estariam 'abrindo turmas' em algumas dessas cidades.  Se isso estiver acontecendo, pedimos aos interessados que busquem saber mais sobre a instituição que patrocina tais eventos, quem são os responsáveis, a trajetória e a qualificação dos referidos professores.   Esta Coordenação de Ensino e Pesquisa, preocupada em manter a lisura e a transparência dos Centros de Formação onde atua, confirma inexistir autorização para o funcionamento desses 'cursos', sob a orientação desta Casa.  A firma está reconhecida na forma da legislação.    Atenciosamente Coordenação de Ensino e Pesquisa Casa da Filosofia Clínica H

Cantiga de Malazarte *

Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo, ando debaixo da pele e sacudo os sonhos. Não desprezo nada que tenha visto, todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola. Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos, destelho as casas penduradas na terra, tiro os cheiros dos corpos das meninas sonhando. Desloco as consciências, a rua estala com os meus passos, e ando nos quatro cantos da vida. Consolo o herói vagabundo, glorifico o soldado vencido, não posso amar ninguém porque sou o amor, tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos e a pedir desculpas ao mendigo. Sou o espí­rito que assiste à  Criação e que bole em todas as almas que encontra. Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo. Nada me fixa nos caminhos do mundo. *Murilo Mendes

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