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Poema para uma aeromoça*

"Que estranhos sonhos embalam aquela aliança em seu dedo? Filhos, afeto, chegar em casa, ter seu canto... Que sonhos ainda embalam aquela aliança? Escrever um livro, viajar, deixar tudo... Talvez apenas repouse ali, aquela aliança, Dourada e esquecida dos sonhos." *Valter Bende Filósofo Clínico Campo Grande/MS

Sentido*

Que fique muito mal explicado Não faço força pra ser entendido Quem faz sentido é soldado Para todos os efeitos meus defeitos não são meus Que importa o sentido se tudo vibra? Não importa o sentido O bramido do meu canto mudo Comporta bemóis e sustenidos Convoca ouvidos surdos Ao silêncio suave Da melodia sem conteúdo Está escrito Quem não quiser ceder ao canto das páginas feche os olhos ou tape com cera os ouvidos. *Alice Ruiz

A literatura dos especialistas*

  “Deus tem em jogo sua existência nessa morte livre que um homem resoluto se dá.” Maurice Blanchot Existe uma literatura na cabeça, melhor existem literaturas em cabeças pensantes, em cabeças mercantilistas, em cabeças afetadas, e o melhor, em cabeças utópicas. Utopia nos dias de hoje parece mais um livro obsoleto, um livro de pouco interesse de mercado. Quando bate a crise, o livro é o primeiro a cair no esquecimento.  Esses dias uma pessoa me falou que a crise é de todos, mas poucos conseguem morrer nela, conscientes de suas ideias, de suas utopias. Fiquei com esse pensamento durante dias, do início ao fim da badalada Flip (em Paraty/RJ), a mesma que prestigia a cultura, que nomeia os melhores, que busca divulgar nossa produção. Tantas coisas que já não consigo lembrar por falta de interesse em ter essas iniciativas como verdadeiras representantes de nossa cultura. Sei, a Flip, as bienais do Rio de Janeiro e de São Paulo perderam seu brilho.  A mídia há muito come

A carta*

Hoje encontrei dentro de um livro uma velha carta amarelecida, Rasguei-a sem procurar ao menos saber de quem seria… Eu tenho um medo Horrível A essas marés montantes do passado, Com suas quilhas afundadas, com Meus sucessivos cadáveres amarrados aos mastros e gáveas… Ai de mim, Ai de ti, ó velho mar profundo, Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios! *Mário Quintana

Enquanto Faço Verso…*

Enquanto faço o verso, tu decerto vives. Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue. Dirás que sangue é o não teres teu ouro E o poeta te diz: compra o teu tempo Contempla o teu viver que corre, escuta O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo. Enquanto faço o verso, tu que não me lês Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala. O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas: “Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas”. Irmão do meu momento: quando eu morrer Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo: Morre o amor de um poeta. E isso é tanto, que o teu ouro não compra, E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto Não cabe no meu canto. *Hilda Hilst

Eu e meus outros eus*

Sei que eu sou eu Mas não sou só eu Sou eu, e sou minhas circunstâncias Sou eu e sou os meus outros eus. Sou só, sozinho, solitário Sou único, sou singular Todavia, sou plural , também Sou estes pedacinhos Que outros deixaram em mim Sou, ainda, estes pedacinhos Que outros levaram de mim Apenas me prolonguei Me expandi Me enriqueci Nada perdi Cresci Fiquei maior e melhor.... talvez! Se eu não sou nem meu Como poderia ser de alguém Ou alguém poderia ser meu??? *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Tratado geral das grandezas do ínfimo*

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado. Sou fraco para elogios. *Manoel de Barros

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