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O Artesão das Manhãs*

Quando nasci, as manhãs tinham tonalidades de esperança. Meu primeiro sorriso guardava a pureza das flores mais belas. A liturgia do tempo sacramentalizava minha simplicidade. Descobri-me ser humano antes mesmo de saber que eu viria a ser. Fui tecido com tramas de amor e pontos de ternura. Construí-me na pluralidade das descobertas e na singularidade dos meus gostos. E foram tantos os desgostos, que de agosto a agosto as estações foram cumprindo seu ritual de invernos e primaveras. Hoje encontro-me em tempos que não me reconheço e em abraços que nunca recebi. Convivo com saudades que ainda não sei nomear. Descubro-me feliz em meio a infelicidades. Continuo sendo recortado por palavras que no fio do silêncio sangram minhas memórias. A dor de tantos anos reaparece em noites estreladas que ao longe reacendem as esperanças de um novo alvorecer. Saudade define meu ser que nas tardes sem perspectiva aos poucos repousa nos antônimos de meus medos.  Tantos verbos sem ação. Tan

Portas Abertas*

Recebi algumas criticas sobre meu ultimo artigo “Ainda estamos juntos”. Falavam que sempre deixo uma mensagem no ar, um espaço para interpretações, e, neste caso especifico, a frase final “quando existe amor, as portas nunca fecham”, seria um recado velado, ou, até mesmo, super direto para alguma pessoa em especial. Aceito todas as criticas com muito respeito, mas preciso esclarecer que quando escrevo, minha intenção nunca é fechar a questão ou as portas. Quero provocar o leitor a pensar, discordar, ir além do texto. A graça de ser escritor é poder conduzir a imaginação do leitor, e, quanto mais longe eu conseguir levá-lo, melhor. Se o texto for um recado, uma teoria, uma história, não faz a menor diferença, o objetivo do escritor é criar, na medida de suas possibilidades, meios de comunicação entre as ilhas de seu arquipélago, construindo pontes, fornecendo embarcações, ensinando a nadar. Aproveitando o assunto “portas”, gostaria de contar a história de duas namoradas

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. Viver é uma espécie de loucura que a morte faz. Vivam os mortos porque neles vivemos" "(...) Ângela não sabe que é personagem. Aliás, eu também talvez seja o personagem de mim mesmo. (...) quanto a mim, sinto de vez em quando que sou o personagem de alguém" "(...) a poeira é filha das coisas" "Refugio-me nas rosas, nas palavras" "Sou como estrangeiro em qualquer parte do mundo. Eu sou do nunca" "Qualquer um pode sonhar acordado se não mantiver acesa demais a consciência" "Nunca vi uma coisa mais solitária do que ter uma ideia original e nova. Não se é apoiado por ninguém e mal se acredita em si mesmo. Quanto mais nova a sensação-ideia, mais perto se parece estar da solidão da loucura" "Eu, alquimista de mim mesmo. Sou um homem que se devora ? Não, é que vivo em eterna mutação, com novas ad

O amor e a poesia*

- Oi, quem bate? - É uma poesia!! Insiste a poesia Em bater levemente Assim, de forma tímida À portinha dum paraíso Coração feito abrigo Para que ele se abra Abracadabra!!! Desfaz o feitiço Pela doçura De alguma poesia Não existe Poesia em si Existe , sim, poesia em mim Existe , sim, Poesia em ti. Poderia ainda o amor Ser o contato Entre duas poesias? Até a queda livre pode ser livre... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) a certeza de que as coisas têm outro sentido além daquele que estamos em condições de reconhecer" "A filosofia não propõe questões e não traz as respostas que preencheriam paulatinamente as lacunas. As questões são interiores à nossa vida, à nossa história: nascem aí, aí morrem, se encontraram resposta, o mais das vezes aí se transformam; em todo o caso, é um passado de experiência e de saber que termina um dia nesse abismo" "(...) Ele será aquilo sem o que não haveria nem mundo nem linguagem, nem o que quer que seja, será a essência" "(...) o filósofo procura - uma linguagem da coincidência, uma maneira de fazer falar as próprias coisas" "(...) um mistério familiar e inexplicado, de uma luz que, aclarando o resto, conserva sua origem na obscuridade" "De sorte que o vidente, estando preso no que vê, continua a ver-se a si mesmo: há um narcisismo fundamental de toda visão" "(...) nossa v

Método do silêncio*

  “Tudo o que se movia nele ainda jazia em trevas, embora já sentisse o desejo de contemplar em meio à escuridão coisas que os outros não percebiam.” Robert Musil A maldição nunca vem sozinha. Vem acompanhada do verme deixado pela Vida em algum canto deste país. Nesta cidade o fenômeno do verme é que ele, midiático, como seu ar de “estuprador do espírito”, observa o cenário em ruínas desmoronar-se no esquecimento. Decadência. Diante de uma obra que foi criada para identificar como verdadeira, certos feitos, pensamentos monopolizam e naturaliza a verdade midiática de um só Dono: o verme onipresente. Por ser a excrescência da realidade, de uma sociedade que se ilude com o passado imposto, a cultura da terra nem sempre é orgânica, raiz é a invenção do poder. Um dia percebi que o silêncio do verme era sua arma para fazer com que o Outro fosse esquecido. Que o Outro morresse em seu próprio mundo, como se existisse mundos distintos, era preciso saber que um lado era nulo e, po

Aninha e suas pedras*

Não te deixes destruir… Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas. Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça. Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir. Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte. Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede. *Cora Coralina

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