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Substratos da existência*

Somos somas de substratos da existência, pois há momentos de sermos frutos, noutros sementes. Também, somos reflexos de memórias que plantamos outrora e que ainda persistem latentes. Somos ausências, somos presenças. Somos duração, somos intervalos e pausas. Somos muito de muitas coisas e um pouco de outras tantas. E as vezes, parte de nós, ora as melhores ora nem tanto, são forjadas grandemente através de brevidades que se eternizam porque nos marcam para sempre no agora. Um pouco de nós é resultado de lágrimas que irrigaram os jardins da nossa alma. E outras porções de nós provém do retumbar de sorrisos que pareciam ecoar para sempre enquanto alguns caminham orgulhos e cheios de certezas vãs até descobrirem que ao final o que nos define mesmo nunca diz respeito a quantidade de erros nem de acertos, porque o que produz uma vida feliz e rica de paz é uma curiosa e instigante capacidade persistente de aprender, perdoar, nos superar e, sobretudo, nos fazer justos. Afinal

Poemas inéditos*

Se deixar, eu me apaixono por todo mundo só que nem sempre minhas paixões envolvem sexo - quase nunca e aí é que ninguém entende É que de onde venho, nós vivemos em estado de graça uns pelos outros e só nos casamos quando concebemos um filho - naturalmente e nem sempre vivemos embaixo do mesmo teto é que de onde venho não existe teto o que coroa nossas cabeças se chama amor * Todo mundo vai e eu fico. Olha lá todo mundo indo e eu fico. Todo mundo vai. Tem, tem assento vago ainda, eu fico. Todo mundo vai e eu fico. Olha lá o moleque entrou, todo mundo indo, e eu fico. Eu fico porque que de repente cai chuva grande. Aí você, vai também que é pra cair chuva grande. Vai que eu fico. Eu fico e todo mundo vai. Eu fico, sempre de olho grande esperando a chuva. Vendo todo mundo ir. Vai todo mundo. Eu fico. Ficamos, eu, a chuva que vai que cai, a rodoviária. * A poesia é um idioma. Cada um tem o seu, e há quem fale e entenda vários. Qualidade

O eu e o nós*

Nem mais sabemos como comportar diante tanta violência. O mundo e nós perdemos o fio delicado e sutil do respeito mútuo. Queixamos, mas nós mesmos comportamos com raiva, medo, ansiedade, fofoca, ganância de poder... Há solução? Teorias e mais teorias tentaram dar respostas... e nada muda. Mas, se tentássemos modificar nossa conduta já seria um grande passo. Como? Meditando e agindo com consciência. Refletindo sobre nossos comportamentos. Fácil atirar pedras... fácil criticar e julgar... difícil é o agir coerente. Precisamos parar de correr e criar expectativas. Agradecer o que temos e cuidando delicadamente de todos e tudo sem apego. Fazer bem feito sem buscar a perfeição inexistente. A vida é poesia para quem vive o agora solidário. Temos muito a compartilhar... Basta sair do eu e ser Nós. Dra Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Convite*

Não sou a areia onde se desenha um par de asas ou grades diante de uma janela. Não sou apenas a pedra que rola nas marés do mundo, em cada praia renascendo outra. Sou a orelha encostada na concha da vida, sou construção e desmoronamento, servo e senhor, e sou mistério A quatro mãos escrevemos este roteiro para o palco de meu tempo: o meu destino e eu. Nem sempre estamos afinados, nem sempre nos levamos a sério. *Lya Luft

A invenção da palavra*

                           "Eu vejo o mundo através de minhas palavras"                                                            Carlos Nejar A textura dos dias sugere a conjugação de um andarilho com o devir das quimeras. Ao desler o mundo ao seu redor, sua maldição consiste numa percepção que se refugia na ilegibilidade. À deriva dos consensos, seu viés discursivo aprecia surgir num ponto entre um delírio e outro. Ao derivar ideias complexas de ideias complexas, afronta a sintaxe conhecida. Um teor assim mencionado, antes de permitir algum deciframento, rascunha-se num dizer impregnado de meias-verdades, subterfúgios, errâncias discursivas. Quando chega a ter definição já é saber mumificado. Em Filosofia Clínica é comum um acolhimento compreensivo ao ser incomum. No esboço dessa linguagem que transborda, um dizer busca descrever-se. A referência indireta reverencia a vida em estado nascente. Sua verdade possui rituais de singularidade. Um discurso pesso

O amor e a criança*

Eu estava apenas deixando de ser criança. Mas já sabia subir em árvores. E havia um caquizeiro no pomar. Eu gostava de caqui. A árvore era alta. A fruta difícil de apanhar. Esfolei meus braços. Arranhei meu peito. Cortei minhas pernas. Mas consegui... Na volta a fruta madura caiu da minha mão. E se amassou no chão. Cara, mas que droga!! Mas eu estava apenas deixando de ser criança. Então chorei, mas não desisti. Subi mais alto. Apanhei a fruta mais difícil. A mais bonita e a mais perigosa.... Na volta, segurei com todo o cuidado. E a menina que eu sempre amei estava de passagem. E disse que adorava caqui. _É sua, apanhei para você! - disse-lhe. Ela sorriu E eu descobri Que era amor. Mas eu e ela Estávamos apenas Deixando de ser crianças. *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Por uma certa parte de nós mesmos, vivemos todos além do tempo. Talvez só tomemos consciência de nossa idade em certos momentos excepcionais, sendo, na maior parte do tempo, uns sem-idade" "Vivera com a mãe em sua casa, passeara com ela no jardim, acolhera suas irmãs e suas sobrinhas, fingira escutá-las, mas durante esse tempo, na imaginação, ele vivera só em seu apartamento de solteiro; depois da morte da mãe, não fizera senão mudar-se para onde há muito tempo já morava em espírito" "Existe uma fronteira quantitativa a não ser ultrapassada; mas essa fronteira não é vigiada por ninguém, e talvez até mesmo ninguém saiba de sua existência" "A vocação da poesia não é nos deslumbrar com uma ideia surpreendente; mas sim fazer com que um instante do ser se torne inesquecível e digno de uma insustentável nostalgia" "Outra coisa, retoma Agnes, mesmo que minha pergunta lhe pareça boba. Os que vivem lá, onde você está, têm rostos

As mulheres e as cidades*

Penso nas cidades como mulheres com seus becos e ruelas sinuosas cantinhos onde descansar. Os suspiros de Marília de Dirceu em Ouro Preto, águas em calda em Araxá e Rio Quente, areias perdidas para o mar em Fortaleza, construções também arrancadas em Atafona; as que se erigem em torno do córrego nascedouro, como Sacramento, estrada acarinhando as curvas do rio Doce até Valadares, tanta pedra em Delfinópolis até a Serra da Canastra virar poeira em Medeiros, as trilhas para as cachoeiras, veias da terra, em Pirenópolis, Campinas dando os braços a São Paulo, os mandacarus de Caicó, e minha querida Carnaúba, de todos os Dantas. *Vânia Dantas Filósofa Clínica Uberlândia/MG

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